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quinta-feira, fevereiro 14, 2013

POR UM SÃO JOÃO MONOCULTURAL


Tony Belotto, dos Titãs, no carnaval de Recife.

Findo o carnaval, todas as atenções se voltam para a próxima grande festa popular brasileira: as festas juninas, que em Campina Grande adquirem importância adicional por acontecer aqui o maior evento popular dessa época em todo o planeta, não à toa batizado como “O Maior São João do Mundo”.

A expectativa principal é com relação às mudanças que ocorrerão na festa a partir deste ano, com a volta do grupo político que a criou e estruturou e com a participação importantíssima do atual vice-prefeito, Ronaldo Filho, que congrega as características de ser filho do criador evento como o conhecemos atualmente e de empresário bem sucedido no setor de eventos.

Layout do Parque do Povo, descentralização da festa, divulgação nacional, atração da mídia internacional (que estará no Brasil nos próximos anos para os eventos esportivos) e vários outros pontos importantes devem estar sendo debatidos no âmbito da administração pública municipal, mas um ponto que muito me chama atenção, ainda no calor dos últimos acordes de momo, é a questão da programação do evento.

Vimos pela TV e muitos campinenses foram pessoalmente participar de mais um “carnaval multicultural” do Recife, com shows de artistas como Milton Nascimento, Luíza Possi, Fafá de Belém, Baby do Brasil, Roberta Sá, Titãs, Alcione, Zeca Baleiro, Sandra de Sá, Zélia Duncan e Céu, entre vários outros, inclusive pernambucanos, como Reginaldo Rossi, que não têm com o carnaval grande identificação do ponto de vista artístico profissional.

É óbvio que a presença desses artistas engrandece o evento e atrai turistas, mas será que sua presença no principal palco da principal festa do mais importante evento popular de Pernambuco contribui para o fortalecimento da cultura local, notadamente relacionado a ritmos como o frevo e o maracatu, que têm em Pernambuco o seu berço e maior vitrine para o mundo?

Transferindo essa realidade para Campina Grande, no mês de junho, que cenário encontramos?

Há vários anos nossa cidade tem aberto espaço na programação de sua maior festa popular para atrações que pouco ou nada têm a ver com a nossa cultura, a exemplo de cantores e duplas sertanejas que já ocuparam as mais importantes noites do nosso São João.

Nada contra Zezé di Camargo ou Luan Santana, mas se Recife não tem atrações em número ou renome suficiente na cena de frevo, maracatu ou caboclinhos para ocupar cinco dias de programação, nós temos, com sobras, artistas com qualidade e sucesso para rechear muito bem as nossas 30 noites de São João.

E não se trata de reserva de mercado, pois há grandes atrações de fora de Campina e da Paraíba que representam com grande qualidade a nossa cultura, além de muitos artistas que até atuam com estilos diversos dos nossos tradicionais xote, xaxado, baião, galope etc., mas quando junho vai chegando transformam seus shows em verdadeiros arraiais e homenageiam com muita humildade a nossa música e os nossos grandes nomes de ontem e de hoje.

Sem falar na grande quantidade de artistas ainda sem a mesma expressão de estrelas de outras bandas que só não estouraram ainda para o sucesso justamente pela falta de visibilidade em sua própria terra, o que não falta em eventos de outras regiões, como o próprio carnaval de Pernambuco, que tomou o cuidado de colocar no mesmo palco que os consagrados Caetano e Alceu nomes que precisam ser descobertos pelo público e pela mídia, como Nonô Germano, André Rio, Silvério Pessoa, Isaar França e vários outros.

Além disso, Olinda faz a vezes de guardiã da cultura pura e destilada ao longo dos anos em suas ladeiras quando proíbe terminantemente que outros ritmos que não os exclusivamente pernambucanos percorram suas ruas nos dias de momo.

Nos últimos anos, os artistas realmente identificados com a nossa cultura foram literalmente maltratados pela organização do evento que deveria reverenciá-los e servir-lhes de catapulta para o sucesso. Exilados da programação ou relegados aos dias de menor público, ainda foram, em grande parte, surrupiados em seus cachês, que esperaram – ou ainda esperam – meses e até anos para receber.

Inobstante o fato d’O Maior São João do Mundo ser um evento turístico, não há qualquer pesquisa ou estudo que confirme que contratar as atrações que estejam em alta no Brasil lhe agregue valor comercial e muito menos cultural.

Jamais ouvi dizer que alguém saiu de São Paulo para vir ver Bruno e Marrone em Campina Grande. Eles vêm ver e conhecer Elba, Dominguinhos, Flávio José, Alcimar, Amazan, Ton Oliveira, Biliu, Tony Dumont, Zé Calixto e tantos outros que fascinam quem lhes assiste e percebe a carga cultural que existe por trás de seu trabalho.

Outros, que já fazem enorme sucesso com um estilo mais mercadológico – as famosas bandas de forró de plástico –, também não devem ser esquecidos, mas jamais devem ser priorizados, afinal estes não têm nenhuma dificuldade para encontrar espaços para mostrar sua “arte” e suas agendas já incluem a maioria das cidades que nos exportam turistas no São João, o que comprova que é a nossa festa que atrai expectadores e agrega valor aos seus shows e não o contrário. Essas atrações deveriam, isso sim, oferecer condições diferenciadas para figurar em nossa agenda – como acontece com o carnaval de Salvador –, pois quem está no maior vale mais para os menores.

Até artistas originalmente de outros estilos devem ser bem vindos, desde que respeitem e se adequem à nossa festa. Titãs quer tocar forró? Será muito bem vindo! A nossa cultura é que deve estar em primeiro lugar, então qualquer grande estrela que quiser se adequar ao nosso período e trazer um repertório que renda homenagens aos nossos grandes nomes poderá ocupar espaço em nossos palcos, como bem fazem artistas como Gilberto Gil, Geraldo Azevedo, Alceu Valença e tantos outros. Mas tem que ser bem feito, porque quem tem o melhor do forró é exigente com seus visitantes.

Quanto ao tão falado “intercâmbio cultural”, façamos com quem de fato, resgata, mantém e produz cultura em todos os estados do Brasil, que são os grupos de tradições folclóricas. Vamos, antes de mais nada, retomar o interesse da organização do São João pelas nossas quadrilhas e grupos folclóricos, que têm sido submetidos a migalhas nos últimos anos. Depois disso, que Campina abra espaço para o fandango gaúcho, o samba de raiz carioca, o carimbó paraense, o boi bumbá amazonense, o bumba-meu-boi maranhense, o reisado, o maracatu, os caboclinhos e todas as demais manifestações culturais brasileiras. Quem sabe esse intercâmbio não abre espaço para mostrar também a nossa cultura em outras regiões? Quem sabe não ressuscitamos o Festival Internacional de Folclore que Campina tentou fazer na década de 1980 e que não sobreviveu por falta de apoio governamental? Precisamos ocupar as lacunas de nossa programação diurna e os palcos dos nossos teatros e essas manifestações são perfeitas para isso, inclusive, com discussões a respeito delas e da necessidade de fortalecê-las, como já faz a UEPB há vários anos com o seu importantíssimo evento sobre folkcomunicação.

O Maior São João do Mundo está carente de atenção com o que realmente importa. Nossos artistas estão com a autoestima baixa e nossa gente está perdendo o interesse pela festa.

Parafraseando o jornalista Arimatéia Sousa, o São João precisa fazer as pazes com Campina.

Os nossos maiores representantes são os nossos artistas e ativistas culturais. Prestigiá-los, valorizá-los e tratá-los como eles merecem – e não são tratados há muito tempo – é um ótimo começo.


sexta-feira, fevereiro 08, 2013

LEI SECA: TOLERÂNCIA ZERO, BOM SENSO TAMBÉM



Uma situação tem se repetido nessas últimas noites de pré-carnaval em João Pessoa.

Pessoas que vão de carro para as festas e bares da noite pessoense resolvem beber e solicitam a pessoas que não foram de carro que assumam o volante de seus automóveis no caminho de volta.

Ocorre que as blitze realizadas para coibir o uso de veículos automotores por pessoas alcoolizadas, além de verificar a sobriedade do condutor, também requerem dele sua documentação e a do automóvel.

O resultado é que as pessoas que estão prestando favores a amigos ao assumirem o volante de seus carros têm sido multadas por não portarem suas CNHs, como previsto no CTB.

Mas por que essas pessoas não levam suas habilitações para a festa?

Ora, justamente porque a própria polícia aconselha todos que vão a uma festa de multidão como o Folia de Rua a não levar documentos originais - apenas fotocópias autenticadas - mas como a CNH só tem validade se for a original, não adianta nada levar apenas uma "xérox".

Para quem vai de carro, nenhum problema, pois basta deixar a CNH original no carro enquanto está na multidão, mas e quem vai de ônibus, táxi ou carona, deixa onde?

Seria absolutamente errado defender que a polícia liberasse a condução de veículos por pessoas não habilitadas se não houvesse possibilidade de comprovar sua condição de condutor por outros meios.

Mas há. A Polícia de Trânsito da Paraíba tem como verificar, através de contato via rádio com a central, se determinada pessoas está devidamente habilitada, apenas utilizando os dados de outros documentos apresentados.

Mesmo assim, na última terça-feira, várias pessoas foram detidas em uma blitz do BPTRAN por estarem conduzindo veículos de amigos na volta para casa, não tendo qualquer sintoma de embriaguez - inclusive após uso do bafômetro - e apresentando outros documentos (fotocópias) que possibilitaram aos policiais presentes checar que as pessoas são habilitadas e suas CNHs estão em plena validade.

Uma policial, cujo nome prefiro não mencionar, chegou a ser extremamente agressiva com algumas pessoas que não portavam a CNH mas cuja central atestou estarem habilitadas, ameaçando apreensão de veículos e ignorando pedidos de bom senso por parte de colegas que estavam muito mais preocupados com o que realmente importava naquele momento: impedir condutores alcoolizados ou não habilitados de colocar em risco as vidas de outras pessoas.

No episódio específico, enquanto a policial exercia o seu "poder" sobre pessoas que estavam apenas buscando contribuir para o cumprimento da lei, vários outros condutores deixaram de ser parados e fiscalizados.

Todos os órgãos envolvidos na operação Lei Seca têm contado com grande aceitação e colaboração da imprensa e da população, mas é preciso saber que esse apoio se refere à busca por um trânsito mais seguro e responsável, menos violento.

Com essa postura equivocada, mesmo estando sob a chancela da lei, a única coisa que uma "autoridade" dessas consegue é impedir pessoas sóbrias de conduzir veículos que poderiam estar sob a posse de pessoas alcoolizadas, gerando risco desnecessário para a população.

Afinal de contas, o que é pior: ter ao volante uma pessoas comprovadamente sóbria e habilitada - embora não esteja de posse do documento - ou uma pessoa portando o documento, mas em estado de embriaguez?

segunda-feira, fevereiro 04, 2013

Mídia Campinense: por uma agenda positiva







Quem acompanha o noticiário paraibano e campinense já se acostumou – ou não – com o que o senador Cássio Cunha Lima batizou de “rame rame”.

Grande parte de nossa programação jornalística, independente do veículo, está tomada há anos pela infrutífera discussão e análise sobre a movimentação dos bastidores da política na Paraíba e em Campina Grande.

Discute-se apoios, cargos, erros e acertos dos governantes e seus opositores. Discute-se sobre interpretações, ilações e adivinhações de políticos, jornalistas e analistas do cenário político-eleitoral paraibano contemporâneo.

Independente de entrar no mérito da pertinência dessa discussão, a Associação Comercial de Campina Grande, com o apoio de diversas outras instituições de grande importância para a economia campinense, lançou na última semana a promoção “COMPRE AQUI”, que tem como principal objetivo incentivar os nossos consumidores a preferirem Campina Grande quando de suas compras ou contratação de serviços, ao invés de comprar pela internet, em viagens ou através de pessoas que trazem produtos de outras cidades, regiões ou países.

Mas há, por trás da promoção, uma iniciativa da ACCG que pode ter efeitos muito mais positivos do que simplesmente a veiculação das peças publicitárias desenvolvidas para a campanha, que é a provocação de uma agenda positiva e, principalmente, efetiva em relação ao debate permanente sobre Campina Grande, seu presente e seu futuro, a exemplo do que também tem feito o movimento encabeçado pelo Instituto Cresce Campina, que muito tem contribuído para o pensamento estratégico local.

Mais do que incentivar o consumidor, a Associação Comercial busca, com essa campanha, incentivar a pauta jornalística de Campina Grande, provocando a discussão sobre as vantagens e desvantagens de se prestigiar o mercado local no momento de uma compra ou contratação.

A exemplo do que diz o spot produzido e distribuído com todas as emissoras de rádio da cidade, a ACCG quer mostrar que todo mundo ganha quando o consumidor escolhe comprar em Campina. Ganha o empresário, que melhora suas condições de investimentos, ganha o fornecedor contratado para viabilizar esses investimentos, ganha o colaborador, que garante o seu emprego, ganha o consumidor, que usufrui dos investimentos e do melhor atendimento, ganha o poder público, que arrecada mais impostos e ganha, inclusive, o mercado de comunicação local, já que os investimentos em publicidade das empresas daqui são todos realizados, obviamente, aqui, ao invés, por exemplo de um site de vendas na internet, que jamais investirá um centavo em uma emissora de TV ou de rádio de Campina Grande.

É essa discussão que precisamos colocar em prática, substituindo, pelo menos em parte, o “rame rame” político, que não ajuda ninguém (a não ser uma pequena parte da mídia com interesses bem diversos do bem estar comum) pelo debate sobre assuntos que efetivamente podem contribuir para manter e melhorar as condições de crescimento de Campina Grande e região, beneficiando, sobretudo, aos mais diversos segmentos da economia local.

O que é bom para todos, é bom para cada um.