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domingo, junho 30, 2013

E o Cobre?


Está ficando cada vez mais irritante - e já não era pouco - discutir política no Brasil nos últimos tempos.

Principalmente nesses dias de manifestações populares, em que deixamos todos de ser técnico da seleção para nos transformar em comentarista político e os defensores ferrenhos do partido que governa o país há dez anos tentam de maneira truanesca estabelecer que o problema do povo brasileiro não é com o atual governo e que a insatisfação generalizada que atinge de maneira igualitária os poderes da república e até setores que não têm responsabilidade direta sobre a gestão pública brasileira, como a Fifa, a mídia, os bancos e as igrejas, apenas para citar os principais “envolvidos” nessa revolta, isenta a administração central de grande parte da culpa pelas manifestações.

Ou seja, o governo não tem nada a ver com as obras superfaturadas ou não realizadas, nem com a ingerência da Fifa em assuntos absolutamente privativos da administração pública brasileira e com os altos lucros que a instituição está auferindo com os eventos que realiza no país. Mas quem foi que foi atrás da Fifa para trazer as copas para o Brasil?

O governo também não tem nada a ver com o completo descalabro que se instalou no Congresso Nacional, onde corruptos notórios controlam as nossas principais casas legislativas, condenados exercem mandatos eletivos e desafiam a Justiça, procurados pela Interpol ocupam vagas na Comissão de Constituição e Justiça e homofóbicos convictos comandam a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Ora, qual a negociação ocorrida no Congresso Nacional nas últimas décadas que não teve o dedo do governo? Qual o presidente de casa ou comissão, mesmo de oposição, eleito sem o aval do Palácio do Planalto desde a redemocratização do Brasil e, consequentemente, nos últimos dez anos?

Quanto à iminente falência do sistema judiciário brasileiro, não tem nada a ver o governo com uma máquina onde criminosos são inocentados por chicanas jurídicas praticadas livremente por advogados picaretas? Onde milhares de pessoas morrem sem ver suas causas julgadas e para se receber uma dívida não paga por um político velhaco praticante de caixa dois espera-se quase dez anos, sem que o político sequer seja impedido de concorrer em outras eleições ou assumir cargos públicos onde controla orçamentos formados por dinheiro nosso?
Não é culpa do governo federal o fato dos bancos brasileiros terem os maiores lucros do mercado financeiro em todo o planeta? Onde com um telefonema a presidente autoriza mudanças na política econômica que causam bilhões em prejuízos aos cofres públicos mas demora meses e até anos para que seja aprovado um projeto de ajuda a famílias carentes atingidas por alguma tragédia proporcionada pela inércia governamental?

Será inocente o governo que investe bilhões de reais por ano para que a mídia de massa e um grande exército de RPs oficiais e enrustidos enalteçam como qualidades divinas o cumprimento de suas obrigações e que acusa de golpe qualquer tipo de iniciativa institucional ou pessoal para apontar suas falhas generalizadas?

Terá alguma coisa a ver esse governo com a verdadeira invasão de líderes religiosos no âmbito da atividade política, formando hoje a mais numerosa, ostensiva e raivosa bancada do parlamento nacional, capaz de manobrar milhões de brasileiros desinformados de acordo com seus interesses e transformando a administração pública em sua refém?

Haverá alguma ligação desse governo com os numerosos escândalos que eclodem permanentemente desde o seu início, em sua maioria investigados inicialmente e levados a público pela imprensa, para, só depois, serem alvo de investigações oficiais, com violentas pressões de setores oficiais aos órgãos encarregados de apontar os criminosos?

Haverá sentido em, diante de uma denúncia, buscar primordialmente os interesses do denunciante e não a veracidade dos fatos?

Há motivos para acusar o ex-presidente Lula por ter diversos casos de enriquecimento milagroso em sua família (seu filho Luiz Inácio da Silva Filho acaba de comprar um avião de US$ 50 milhões!) ou entre seus amigos-companheiros mais próximos ou por ter uma suposta amante envolvida em um vergonhoso escândalo de tráfico de influência dentro de seu próprio governo e do governo que o sucedeu e sobre o qual ele tem clara ascendência política e administrativa?

Há sentido em acusar a dupla Lula/Dilma pelo fato do Brasil, depois de dez anos sob seu controle direto, ainda não ter cumprido nem uma fração do que prometiam um e outro em suas campanhas para apenas cada mandato de quatro anos?

Em qualquer tentativa de debate com qualquer defensor do atual projeto de poder instalado no Brasil, ao invés de qualquer admissão de culpabilidade, defesa coerente, racional e minimamente convincente a resposta mais rápida, quase automática é: E FHC? E O PSDB? E O DEMOCRATAS?

Diante disso, o reflexo é sempre recorrer ao meu tempo de adolescência, quando, diante de algum espertinho que tentava se defender de algum argumento mudando de assunto, a gente perguntava: E O COBRE*???

O que diabos têm a ver qualquer das opções apresentadas com o que está sendo apontado em relação ao governo atual?

Teve corrupção no governo FHC? Claro que teve! Há corruptos no PSDB? Lógico que há! O PSDB, o Democratas e vários partidos da oposição abrigam alguns dos piores políticos da história brasileira? Abrigam!

Mas a questão é: UM ERRO JUSTIFICA O OUTRO?

Não se pode admitir que a existência de uma falha da oposição seja suficiente para defender uma falha da situação, nem aqui nem em lugar nenhum, como não é justo apontar os acertos de um governo anterior para tentar apagar os acertos do atual.

O que se discute neste momento é se o modelo atual faz mais bem ou mais mal ao Brasil. Eu considero que faz muito mal.

Obtida a resposta, passa-se à próxima questão, que pode ser sobre eventuais mudanças no projeto atual ou quais projetos poderão ser mais positivos para o país, entre eles os que ocuparam o poder no passado. Eu acredito que o modelo atual, juntamente com o PT e seus principais aliados, faliu e se auto destruiu, mas não vejo na volta dos que governaram antes, nem de longe, a solução que o Brasil precisa. Admitindo, inclusive, que o PT ao assumir o poder manteve a mesma política implantada pelo PSDB (com o que 99% dos tucanos concorda) não há sentido no PSDB se apresentar nesse momento como diferente depois de passar anos dizendo que o PT tornou-se seu mais próximo semelhante!

É preciso ir mais fundo!

Antes de mais nada, o Brasil tem que mudar as regras do jogo. Isso pode ser conseguido com a tão propalada reforma política – que pode muito bem ser realizada sem o plebiscito e sem o custo absurdo de R$ 500 milhões.

Estabelecidas as novas regras, é preciso que entrem em campo novos times, com novos técnicos, novos jogadores, que obedeçam finalmente o conceito de jogo em equipe – onde os jogadores são escolhidos pelas suas habilidades e não pela relação com o técnico – e, principalmente, um jeito novo de jogar.

O Brasil não precisa mais de equipes que joguem contra a torcida e nem para a torcida. O Brasil precisa de uma equipe que jogue COM A TORCIDA!

E em relação ao barulhento mimimi das viúvas do PT de décadas passadas e às comparações entre os defeitos e virtudes de hoje com os de ontem, eu continuo repetindo: E O COBRE*?

terça-feira, junho 25, 2013

O Discurso que eu gostaria de ouvir


“Minhas amigas e meus amigos,

Tenho acompanhado nos últimos dias as manifestações que ocorrem em todas as partes do país e venho ocupar este importante espaço para apresentar, como presidente da república e principal responsável pelo efetivo atendimento às demandas da população, as ações concretas que serão tomadas pelo meu governo a partir de agora, como forma de responder ao que esperam os milhões de brasileiros que, estando ou não nos protestos, exigem mudanças reais, efetivas e, principalmente, imediatas.

Em primeiro lugar, quero assumir aqui, em nome do partido que represento, o Partido dos Trabalhadores, a parte da culpa que nos é devida em relação aos rumos que o Brasil tomou nos últimos dez anos.

Sim, erramos. 

Sim, o Partido dos Trabalhadores se perdeu do caminho traçado por seus fundadores e se rendeu, em vários momentos, ao que a política partidária tem de pior. Praticamos, no exercício do poder, alguns dos mais vergonhosos atos de corrupção ativa e passiva, peculato, apropriação indébita, improbidade administrativa e todos os tipos de crimes de responsabilidade já ocorridos na história do Brasil.

Faço questão de deixar claro que nem todos os filiados ao PT se coadunam com essa postura e comportamento criminosos, mas reconheço que a cúpula do partido, em suas várias esferas, está infestada de dirigentes sem qualquer pudor para cometer os mais infames crimes contra a coisa pública e que precisamos urgentemente realizar mudanças radicais no partido, antes que ele seja destruído pelos ventos de mudança soprados pelas ruas.

Essa realidade, infelizmente, não é característica exclusiva do partido que ocupa atualmente a presidência do Brasil. Falo do PT porque é o meu partido e me sinto na responsabilidade de admitir as suas falhas e assumir, como sua mais importante filiada, e com o poder que me oferece o cargo que ocupo, admitir tais erros.

Espero que os demais partidos, sejam eles da base aliada ou da oposição, estejam no poder atualmente ou tenham estado antes de nós, se dignem a ocupar também os espaços que lhes forem abertos na mídia, através de seus mais importantes representantes, para assumir a sua responsabilidade neste cenário desolador no qual se transformou a vida política brasileira, pois não posso e nem devo acusar ou condenar agremiações partidárias das quais não faça parte, mas como cidadã também não vou me eximir de reconhecer um quadro absolutamente desanimador, com ocupantes de cargos eletivos de praticamente todos os partidos brasileiros sendo alvos de denúncias cotidianas dos mais graves crimes contra a cidadania e milhares de inquéritos e ações penais contra políticos tramitando na justiça brasileira.

Sei que o povo brasileiro não aceita mais ouvir as mesmas promessas do passado, que anunciavam um futuro que nunca chegou.

Sei que você, minha amiga e meu amigo de qualquer parte do Brasil está cansado, por isso não vou me alongar mais em minhas considerações sobre o quadro atual da política brasileira e passo agora a apresentar as ações concretas que serão tomadas imediatamente pelo meu governo ou que pretendo atuar junto aos demais poderes para fazer acontecer no menor espaço de tempo possível.

São o que chamaremos a partir de agora de 8 PACTOS PARA UM BRASIL DE TODOS.

1º PACTO - REALIZAÇÃO DE TODAS AS OBRAS PROMETIDAS DURANTE A CAMPANHA DO BRASIL PARA SEDIAR A COPA DO MUNDO DE 2014 E OLIMPÍADAS DO RIO DE JANEIRO DE 2016. PAGAMENTO DOS IMPOSTOS PELA FIFA.

Há alguns anos, quando o governo brasileiro apresentou as suas candidaturas para sediar a Copa do Mundo e as Olimpíadas foram divulgadas para todos os brasileiros, e especialmente para os moradores do Rio de Janeiro e das capitais que serão sedes da Copa, uma série de contrapartidas sociais que trariam melhoras significativas para estas cidades em diversas áreas e que justificariam o investimento do governo brasileiro na realização desses eventos esportivos.

Sei que poucas obras foram realizadas e boa parte delas nem teve início, mas assumo aqui o compromisso pessoal de executar todas as obras prometidas, independente de estarem concluídas ou não até quando os eventos forem realizados, pois não as realizaremos para atender aos turistas que vierem prestigiar o evento e sim para o nosso povo, que merece a nossa maior atenção e cuidado.

Cobraremos da FIFA o pagamento de todos os impostos referentes à atuação da instituição do Brasil como promotora da Copa do Mundo, orçados em aproximadamente R$ 1 bilhão.

2º PACTO – ORIENTAÇÃO DA BASE DO GOVERNO PARA A VOTAÇÃO DE MEDIDAS RELATIVAS ÀS REIVINDICAÇÕES DO POVO E ENVIO DE NOVAS PROPOSTAS DE LEIS

O sistema de governo brasileiro não me permite atender diretamente a certas reivindicações apresentadas durante as manifestações, pois algumas delas são atribuições de outros poderes da república, mas nosso governo tem a maioria nas duas casas legislativas e tenho certeza que a oposição também nos apoiará nas votações onde o interesse popular seja majoritário, então assumo aqui o compromisso perante toda a nação de orientar a base do governo na Câmara dos Deputados e no Senado Federal em relação às votações de alguns projetos de lei e emendas à constituição.

As principais são:

- PEC 37 (Fim do poder de investigação pelo Ministério Público) – A base do governo vai votar CONTRA.

- PEC 33 (Permissão para o Congresso Nacional interferir em ações do Supremo Tribunal Federal) – A base do governo vai votar CONTRA.

- PEC 99 (Permissão para igrejas contestarem leis junto ao STF) – A base do governo vai votar CONTRA.

- PEC 300 (Equiparação salarial para todas as polícias militares estaduais e distrital, possibilitada através de subsídios do Governo Federal) – A base do governo vai votar A FAVOR.

- PL 5500/13 (Trata da destinação de 100% dos Royalties do petróleo brasileiro e 50% do lucro do Pré-Sal para a Educação) – A base do governo vai votar A FAVOR.

- PL 234/11 (Modifica as normas de atuação dos psicólogos em relação à questão de orientação sexual, conhecido como CURA GAY) – A base do governo vai votar CONTRA.

Novas Propostas:

- 15% para a Saúde, estabelecendo um mínimo de 15% do orçamento federal anual para investimento no setor de Saúde Pública.

- Lei Anticorrupção, aperfeiçoando as leis atuais para punição aos crimes contra o patrimônio público, com ênfase para a Lei da Ficha Limpa, adicionando-lhe a determinação para que todos os detentores de cargos públicos sejam automaticamente afastados desses cargos quando condenados em primeira instância, até que todos os recursos sejam julgados, como forma de evitar a postura atual dos culpados de tentar protelar ao máximo o fim das ações.

- Novo Código Brasileiro de Telecomunicações, com o objetivo de retirar os veículos de comunicação brasileiros das mãos dos políticos e de democratizar a criação de novas emissoras – e redes – de rádio e televisão.

3º PACTO – SOLICITAÇÃO AO PODER JUDICIÁRIO PARA QUE ACELERE TODOS OS PROCESSOS CONTRA POLÍTICOS BRASILEIROS NO EXERCÍCIO DO MANDATO

Também neste caso a legislação brasileira não permite que o governo tome qualquer medida com relação aos casos de corrupção investigados e julgados pela Justiça Brasileira, mas iremos solicitar ao judiciário que dê total prioridade, em todas as suas instâncias, ao julgamento de processos relativos à prática de corrupção e crimes de responsabilidade no poder público, inclusive com a destinação de verbas, por parte do Ministério da Justiça, para reforçar a estrutura da Polícia Federal, Ministério Público e Tribunais, especificamente para os casos de crimes contra a coisa pública.

4º PACTO – REFORMULAÇÃO COMPLETA DO SISTEMA DE SAÚDE BRASILEIRO

Reformularemos completamente a estrutura física de hospitais, postos de saúde, policlínicas e unidades de pronto-atendimento em todo o Brasil, com prioridade para as regiões mais longínquas, onde o atendimento é mais precário, levando para essas regiões o que existe de mais moderno em termos de instalações físicas e equipamentos, como forma de oferecer as melhores condições de trabalho possíveis para os profissionais que queiram atuar nestas áreas.

Criaremos a carreira federal para profissionais da área de Saúde, com piso regionalizado de acordo com as necessidades de cada região. Ou seja, quanto mais necessitada de sua especialidade for a área onde o profissional irá atuar, maior será o seu salário, com todas as vantagens previdenciárias incidentes sobre o valor efetivamente recebido.

O governo federal apoiará também a ampliação do ensino de medicina nas universidades públicas, com a melhoria da estrutura, a contratação de novos professores e servidores e o aumento das vagas, condicionando a validade do diploma ao exercício da profissão em regiões específicas, com deficiência de mão de obra neste setor. Ou seja, o aluno que quiser cursar medicina em uma universidade pública terá o exercício da profissão, durante um período pré-estabelecido, condicionado à atuação em regiões com deficiência de médicos.

5º PACTO – DIMINUIÇÃO DOS GASTOS E REFORMA TRIBUTÁRIA

O governo federal é perdulário. Gasta muito e gasta mal.

Vamos fazer ajustes profundos nas despesas com a máquina pública, diminuindo a cultura de desperdício que tomou conta do serviço público em todas as esferas, através da implantação de ferramentas modernas de gestão e controle de gastos.

Vamos criar o Orçamento Participativo Federal, coordenado pelo IBGE e realizado a partir de ferramentas confiáveis de pesquisa sobre as principais necessidades de cada região do Brasil, direcionando as verbas de maneira a diminuir as desigualdades e fomentar o desenvolvimento de cada estado nas áreas onde haja maior deficiência e potencial.

Solicitaremos às procuradorias e aos tribunais de contas federal, estaduais e distrital que reforcem a fiscalização da execução do orçamento e implantem o conceito de tolerância zero em relação a falhas nos procedimentos de todas as instâncias do poder público. Não admitiremos que o dinheiro público seja investido em obras superfaturadas ou fantasmas e puniremos severamente as falhas de projetos que resultem em aumento dos valores ou até inviabilidade da execução das obras, sem penalizar a população, mas sendo extremamente duros em relação aos gestores e, principalmente, às empresas contratadas para o fornecimento de produtos e prestação de serviços.

Para isso, criaremos processos que permitam completa transparência do uso dos recursos públicos, de forma que qualquer cidadão possa verificar em tempo real como e quando cada órgão público investe o dinheiro dos nossos impostos. Os gestores de estados e municípios que não permitirem o acesso irrestrito do cidadão às suas informações financeiras serão penalizados com a inclusão de seus nomes em um cadastro nacional de maus gestores públicos e responderão na Justiça pelos seus atos.

Faremos, finalmente, a reforma tributária, com o objetivo principal de diminuir a carga e o número de tributos pagos pelo contribuinte brasileiro, privilegiando os setores produtivos, incentivando o empreendedorismo em todas as escalas, retomando o processo de industrialização e modernizando a estrutura de arrecadação e fiscalização, de forma a garantir que todos paguem seus impostos para que todos possam pagar menos impostos.

6º PACTO – REFORMA POLÍTICA

A partir de uma consulta à população e da criação de um fórum nacional para discussão sobre a legislação eleitoral e política brasileira, com participação ampla de todos os setores da sociedade e completa transparência de seus atos e deliberações, desenvolveremos e enviaremos ao Congresso Nacional proposta de reforma política abordando, entre outros, os seguintes pontos:
- Modelo representativo;
- Democracia Direta;
- Financiamento Público de Campanhas;
- Formato das coligações majoritárias e proporcionais;
- Unificação das eleições municipais, estaduais e nacionais;
- Realização de Plebiscitos e Referendos.

7º PACTO – MOBILIDADE URBANA

Inicialmente, solicitaremos ao Congresso Nacional a revisão da Lei que trata das concessões, que atinge o transporte público, para corrigir eventuais distorções que estejam influindo na qualidade dos serviços prestados e nos valores das tarifas, evitando assim as constantes denúncias relativas a cartéis e máfias comandadas por empresários do setor de transporte em todas as partes do Brasil.

Em seguida, realizaremos estudos no sentido de desonerar toda a cadeia tributária incidente sobre o transporte público, para diminuir desde o preço do ônibus e seus insumos, como pneus e peças, até a mão de obra do sistema, com atenção especial para a remuneração dos funcionários das empresas, cujo poder aquisitivo vem diminuindo sistematicamente ao longo dos anos.

Finalmente, vamos buscar os meios necessários para oferecer, num prazo de dois anos, a gratuidade em todo o Brasil, através do passe livre, para estudantes (nos percursos entre a casa e a escola), portadores de deficiência e de algumas doenças, como câncer e AIDS, e também para pessoas com mais de 65 anos.

De acordo com o tamanho e as características das cidades, investiremos também na criação de outros meios de transporte público e no oferecimento de melhores condições para o tráfego de veículos, motocicletas e bicicletas.

8º PACTO – RESTRUTURAÇÃO DOS PROGRAMAS SOCIAIS

Os programas de assistência social aos brasileiros mais carentes, como o Bolsa-Escola e o Bolsa-Família, têm enorme importância para a melhoria das condições de sobrevivência de milhões de brasileiros e foram responsáveis pela retirada da miséria de uma parcela importante da nossa sociedade, mas precisamos dar o próximo passo e oferecer à população atendida por esses programas opções viáveis e confiáveis para alcançar novamente a vida produtiva e útil ao desenvolvimento do Brasil, por isso vamos realizar estudos no sentido de criar dispositivos e ferramentas que façam com que o cidadão atendido pelos programas sociais do governo seja capacitado e encaminhado de volta ao mercado de trabalho, seja como funcionário da iniciativa privada, servidor público ou pequeno empreendedor.

Mais do que tirar essas pessoas da miséria, vamos trabalhar para que eles integrem a escalada de desenvolvimento por que passam os países emergentes ao longo dos últimos anos, entre os quais está o Brasil, porém em posição abaixo da que nos permitem as nossas riquezas naturais e a qualidade do nosso povo.

Minha amigas e meus amigos,

Sei que as necessidades e demandas da população atingem vários outros setores e que cada brasileiro tem pelo menos uma história para contar em relação à ineficiência do poder público e ao descaso do governo para com determinados setores da população.

Tenho a humildade para admitir que ao longo dos últimos dez anos, apesar de todos os progressos, nos afastamos do caminho que planejamos percorrer e demos motivos suficientes para que o povo, notadamente os nossos jovens, atingissem o limite de sua resignação e fossem às ruas para exigir mudanças as quais é o governo federal o principal responsável em realizar ou viabilizar em parceria com os demais poderes.

Me comprometo neste momento a iniciar imediatamente uma completa mudança de paradigmas em relação à postura e ao comportamento do governo que comando. 

Trabalharei incansavelmente para tornar realidade todos os passos aqui apresentados e não hesitarei em apontar aqueles que de qualquer maneira tentarem impedir que eles sejam concretizados.

Conto com o apoio de cada um dos brasileiros para que fiscalizem a execução de todas as ações e estejam atentos a eventuais tentativas de enfraquecimento do movimento popular que deu razão à profunda mudança de postura que já atinge a todos os setores da gestão pública brasileira.

E mãos à obra!


Muito Obrigada."


Dilma Roussef
Presidente do Brasil

quinta-feira, junho 20, 2013

Campina Grande e o Transporte Público


No final da tarde/início da noite de hoje Campina Grande levará às ruas do centro da cidade a sua versão dos protestos que têm ocorrido nos últimos dez dias em todo o Brasil, iniciados com base nos altos custos das tarifas de ônibus e que extrapolaram há muito tempo esse tema.

Mas é preciso entender como funciona o sistema de transporte público para debater com propriedade o assunto.

É necessário saber que a obrigação de fornecer o serviço é do poder público - municipal - cobrando por ele apenas os custos e subsidiando o transporte daqueles isentos de pagamento.

Como, via de regra, as prefeituras não têm condições de gerenciar, além de tudo o que já administram, suas próprias empresas de ônibus - e quando fazem é um desastre, como aconteceu com a SETUSA em JP - elas optam por terceirizar o serviço, através da concessão do mesmo para empresas privadas, que se obrigam a cumprir as determinações da prefeitura, tendo, em troca, obviamente, uma margem de lucro acima do custo efetivo do serviço prestado, que, em tese, deveria ser pago pelas prefeituras, mas não ocorre em lugar nenhum.

Em Campina Grande, especificamente, criou-se ao longo das últimas décadas uma cultura equivocada, onde a prefeitura transfere para as tarifas não apenas o lucro dos empresários, como também as gratuidades autorizadas pelo município através de leis, o que inclui a meia passagem para estudantes e a gratuidade integral para idosos, deficientes, oficiais de justiça, policiais e, surpreendentemente, carteiros (?!). 

Ou seja, toda vez que a prefeitura, nos últimos 27 anos (a primeira gratuidade, para estudantes, foi criada em 1986), instituiu algum tipo de benefício para usuários do sistema, ao invés de arcar com as despesas desse benefício, como deve ser, transferiu para as empresas a responsabilidade de embutir esses custos na tarifa, fazendo com que a passagem de ônibus em Campina Grande seja uma das mais caras do Brasil, sem qualquer culpa, é preciso reconhecer, das empresas concessionárias.

Em várias cidades do Brasil as prefeituras pagam às empresas pela integralidade, ou pelo menos uma parte, dos serviços prestados sem remuneração, como acontece, por exemplo, em João Pessoa, onde a recente concessão de gratuidade para alunos da rede municipal implicou na obrigação da prefeitura em pagar a passagem dos alunos que se utilizarem do serviço das empresas concessionárias.

Em Campina Grande não há, pelo menos que eu saiba, nenhum repasse por parte da PMCG às empresas de ônibus referente ao transporte daqueles que não pagam, em parte ou integralmente, as passagens.

Durante décadas os governantes fizeram caridade com o dinheiro alheio. Como o NOSSO dinheiro!

Considero que seja esta a real discussão a ser colocada em pauta quando se fala em preço das passagens de ônibus na cidade e acredito que quando a prefeitura cumprir integralmente o que determina a legislação, ignorada pelas gestões passadas, será possível, por baixo, uma diminuição de 30% a 40% no valor da passagem, o que, em número atuais, poderia chegar a algo em torno de R$ 1,25.

Lembro que essa realidade, mais do que onerar o bolso dos usuários, tem gerado efeitos negativos em áreas como mobilidade urbana e segurança, por exemplo, pois foi o alto custo das passagens de ônibus que propiciou a proliferação de mototáxis e tem propiciado atualmente o surgimento assustador de operadores ilegais de transporte clandestino, que tornam a passagem de ônibus ainda mais cara, diminuem a qualidade do serviço prestado pelas empresas concessionárias, entulham o nosso trânsito com carros e motos e submetem seus usuários a riscos desnecessários.

O momento atual é propício para mudanças e torna-se perfeito para esse debate.

Não há, em princípio, ninguém que não esteja interessado na diminuição das tarifas e na melhoria da qualidade do serviço.

O passe livre, sejamos realistas, ainda é impossível, principalmente na realidade de Campina Grande, uma cidade estudantil onde grande parte dos alunos que utilizam o sistema de transporte urbano é formada por jovens de outras cidades/estados.

O que é importante agora é que todos sentem-se à mesa, realizem um debate franco e positivo e encontrem um caminho para a resolução do problema.

E que aqueles que hoje irão protestar por um serviço de transporte barato e eficiente conheçam a realidade do setor.

E vamos às ruas!

terça-feira, junho 18, 2013

Por que Protestas?



Mas, afinal, povo brasileiro, por que protestas?

Será que é porque há seis anos o então presidente Lula nos convenceu que a Copa do Mundo viria acompanhada de melhoria das condições de vida dos moradores das cidades-sede e o que se vê hoje são estádios luxuosos encrustados em cidades com problemas ainda maiores do que naquela época?

Será que é porque Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, nos disse durante a campanha para atrair a Copa que não haveria um tostão de dinheiro público na construção dos estádios e, no final, todos eles consumiram bilhões de reais dos nossos impostos em obras superfaturadas que enriqueceram ainda mais os empreiteiros que elegeram Lula e Dilma?

Será que é porque a FIFA se tornou sócia-majoritária do Brasil, mudando leis como bem entende, impedindo o livre trânsito do nossos cidadãos e lucrando outros bilhões às custas de milhares de idiotas que se submetem a trabalhar em troca de comida e roupa?

Será que é porque mesmo para os estados onde não há sedes da Copa o governo destinou milhões de reais para reformas e recuperação de estádios, como uma forma de calar a boca dos governantes desses estados?

Será que é porque o governo cumpriu rigorosamente o cronograma das obras dos estádios e os construiu com “padrão FIFA” de qualidade, enquanto a transposição do São Francisco está parada há meses por falhas de projeto e de construção, inclusive com alguns trechos construídos já apresentando problemas estruturais?

Será que é porque por ter dado prioridade à Copa o governo abandonou o povo do Nordeste à própria sorte durante a maior seca das últimas décadas, aumentando ainda mais a miséria e MATANDO mais de 11 milhões de animais?

Será que é porque o presidente anterior aparelhou completamente a máquina estatal com os militantes de seu partido – e aliados – e enfiou goela abaixo do povo uma candidata sem qualquer história política ou competência, utilizando de todas as armas e estratégias para enganar o povo carente e ignorante?

Será que é porque o Senado Federal tem na sua presidência um político que já renunciou ao mesmo cargo em 2007 por ter pago as contas de uma amante com dinheiro de uma empreiteira, que foi o ÚNICO defensor de Fernando Collor durante seu impeachment e que atualmente responde a processos por peculato, falsidade ideológica e falsificação de documentos?

Será que é porque a Câmara dos Deputados é presidida por um notório representante das oligarquias nordestinas e que também responde a processos por improbidade e enriquecimento ilícito?

Será que é porque nesse mesmo congresso estão em pleno exercício de seus mandatos os deputados João Paulo Cunha, José Genoíno, Valdemar Costa Neto e Pedro Henry, CONDENADOS pelo escândalo do Mensalão?

Será que é porque a Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara dos Deputados é presidida por um deputado que já chegou a fazer declarações extremamente preconceituosas e desrespeitosas contra, entre outros, mulheres, artistas, negros e homossexuais?

Será que é porque o ex-presidente Lula está envolvido, entre outros, em um escândalo envolvendo mal uso de dinheiro público e tráfico de influência cometidos por uma alta servidora de seu governo que seria, também, sua amante?

Será que é porque o partido que governa o Brasil há mais de dez anos deixou a Saúde chegar a uma situação caótica e agora fala em trazer médicos de Cuba para tratar os doentes pobres das zonas mais afastadas dos grandes centros, sem qualquer teste de conhecimento, período de adaptação ou estruturação dos postos de trabalho?

Será que é porque o Brasil não consegue ter uma política eficiente de atenção básica à saúde da mulher e nem consegue fiscalizar as milhares de clínicas ilegais de aborto espalhadas por todo o país e por isso está querendo legalizar a matança de fetos humanos?

Será que é porque o Brasil tem um sistema judiciário falho e tardio, não tem presídios suficientes para os criminosos e a solução que encontrou para isso foi modificar a legislação para prender menos pessoas?

Será que é porque o Brasil condenou uma geração inteira a viver de esmolas, na forma de bolsas sociais que não têm nenhuma saída para quem busca uma vida digna e produtiva?

Será que é porque o pacto federativo brasileiro virou uma piada de mal gosto, onde o governo oferece benesses a setores da economia em dificuldades geradas principalmente pelo alto custo do país retirando impostos que seriam utilizados para financiar os estados e prefeituras?

Será que é porque o Brasil tem um sistema de educação falido, com um déficit de mais de 100 bilhões por ano em investimentos no setor?

Será que é porque o governo optou por diminuir a qualidade do ensino público superior para aumentar o número de vagas e agora usa o dinheiro que deveria ser investido na universidade pública para pagar cursos de alunos carentes em faculdades particulares?

Será que é porque o governo abandonou a infraestrutura brasileira nos últimos dez anos e agora tenta se livrar da responsabilidade privatizando as mais importantes estradas, portos e aeroportos do Brasil?

Será que é porque a corrupção institucionalizada e a péssima administração federal faz com que o Brasil tenha tido nos últimos anos, de longe, o pior desempenho em todos os quesitos entre os países emergentes na economia mundial?


Será que é porque o sistema de transporte público do Brasil é um dos mais ineficientes e, ao mesmo tempo, um dos mais caros de todo o mundo?

Será que é porque os números da violência urbana no Brasil ultrapassam os números de todas as guerras em andamento no mundo atualmente?

Será que é porque o governo utiliza o seu poder econômico para calar ou controlar a imprensa e, pior, para incentivar a postura manipuladora dos maiores conglomerados de mídia brasileiros?

Será?

Por que será?

Venho formalmente me retratar pelas supostas calúnias proferidas em face da senhora lídia de moura silva cronemberger no que tange às expressões que ela seria "estelionatária" e "que tenha cometido estelionatos", "que teria cometido crime de falsidade ideológica". Retrato-me ainda pela afirmação que a mesma "saiu correndo de lugar nenhum por ter dado desfalque em órgãos de classes". Aproveito o ensejo pedir as mais sinceras desculpas, por ter mesmo sem querer ofendido a honra da senhora lídia.

domingo, junho 16, 2013

O PROFESSOR MARMITEIRO



Me assusta cada vez mais o nível de uma parte dos alunos que se encontra nas salas de aula de ensino superior, infelizmente especialmente nas instituições privadas, desse já tão sofrido Brasil cujo povo come picado e o governo arrota faisão.

Como entender que seja aceitável a existência de um aprendiz que vibra quando o professor avisa que não poderá dar aula, que pede para não fazer prova porque “prova é muito difícil” e pede que “passe um trabalho bem facilzinho” (e no dia da prova pede para que seja feita “em dupla”), que reclama o tempo todo de qualquer tarefa um pouco mais elaborada que seja solicitada, que chega sempre tarde e sai sempre cedo e que, finalmente, passa todo o pouco tempo que permanece na sala de aula conversando e/ou mexendo no celular, tablet ou computador? E ai do professor que colocar falta numa criatura dessas, cujo corpo até aparece na sala, mas que a mente, se é que ainda funciona minimamente, não passa nem perto da faculdade há anos...

Como assimilar uma pessoa que paga – ou cujos pais ou governo pagam – uma mensalidade de valor considerável para que lhe seja prestado determinado serviço, passe a maioria de seu tempo tentando sabotar a relação estabelecida entre si, como cliente e beneficiário dos serviços prestados, e a instituição contratada, através dos professores responsáveis pelo cumprimento do contrato?

Encontramos hoje nas salas de aula do ensino superior brasileiro, especialmente nas instituições de ensino particulares, o melhor e o pior da educação nacional.

De um lado, alunos interessados, esforçados, capazes e competentes, dispostos a sacrifícios diários para tentar ascender social, cultural e economicamente. São atenciosos, curiosos, críticos, questionam cada informação que não lhes faz sentido à primeira vista, adicionam informações ao conteúdo oferecido, às vezes com conhecimento até mais vasto que o próprio professor a respeito de certas especificidades da matéria ou, principalmente, de fatos e conceitos atuais sobre o assunto, pois que estão sempre ligados nas informações do segmento e pesquisando sobre a profissão, o mercado e suas permanentes mudanças e evolução. Não trato esses como alunos, prefiro entender que somos colegas e que, apesar de ainda estarem no estágio formativo da profissão, já têm dentro – e fora – de si todos os elementos que os habilitam a dividir comigo as frentes de trabalho que o mercado oferece.

Do outro lado, o suprassumo da incompetência intelectual brasileira, em sua maioria egressos das melhores escolas particulares disponíveis, filhos de pais que resolveram dar tudo de melhor que não puderam ter na juventude aos seus herdeiros e seguros de que se nada mais der certo, viverão às custas da família pelo resto da vida – e se esforçam muito para que nada dê certo.

Tratam o professor como um garçom de um restaurante a la carte, que deve lhes trazer a comida prontinha, quentinha, fresquinha e, se possível, cortadinha, para facilitar a refeição e evitar sufocamentos com algum pedacinho maior de informação.

Acreditam que esta é a função do professor, tal qual um marmiteiro: ir ao mercado do conhecimento, examinar, selecionar e adquirir toda a informação necessária para a sua nutrição intelectual, com o cuidado de se livrar dos “ossos” e partes menos macias, para depois organizar tudo, distribuir em pequenas porções, para ele não engasgar e nem sofrer algum tipo de indigestão mental e servir-lhe apenas o necessário para que ele possa “se dar bem” na profissão que escolheu e não passar vergonha nos papos com os colegas por não conhecer alguma regra básica da profissão, embora sempre surjam os comentários do tipo “eu vi isso em alguma matéria, mas não prestei atenção, afinal o importante é a prática, né?”

Tudo tem que ser muitíssimo bem apresentado, muito colorido, cheio de figurinhas, videozinhos, musiquinhas, infográficos, links, realidade aumentada, lousa interativa etc. etc. etc. TEXTO? Texto é chato! Texto é antigo! Texto é brega! Texto já era!

Fico imaginando se um aluno desses vibraria ao receber a informação de que a marmita daquele dia não seria entregue, ou ao perceber que um médico deixou de pedir alguns exames para que o diagnóstico de uma doença ficasse mais simples, ou se um engenheiro fizesse os cálculos estruturais de sua próxima casa "no olho" para não ter muito trabalho.

Para essa galera, consumidores sempre muito exigentes e enjoados, todo mundo precisa fazer seu trabalho corretamente, menos o professor, afinal o professor que procura cumprir com suas obrigações e se esmera para oferecer algo que realmente agregue valor à disciplina ministrada, para esses alunos, não ajuda, mas, pelo contrário, atrapalha a caminhada rumo ao único objetivo buscado no curso: o diploma, que tem que ser obtido sem esforço, sendo o maior sacrifício admitido para a sua obtenção o fato de deixarem de assistir às novelas da moda durante algum tempo para frequentar a faculdade.

E no meio disso tudo, afinal existem muitos tons de cinza, estão alunos que a gente percebe estarem meio perdidos nesse universo, em alguns momentos fascinados pela possibilidade de progredir e alcançar estágios de consciência mais elevados, mas em outros puxados para baixo pelo ambiente impregnado de desinteresse e má vontade, que, inclusive, condena e pratica bullying com aqueles que resolvem ir pra sala no início da aula, abandonar a rodinha de conversa para prestar atenção ao conteúdo ou se esforçar para estudar incondicionalmente o conteúdo, independente do que vai ou não “cair na prova”, ou simplesmente expõem de maneira sincera suas dúvidas em relação ao conteúdo exposto. Fazer uma pergunta, em algumas turmas, é motivo para gozação eterna, então alguns preferem passar a eternidade na dúvida.

Quanta vergonha alheia de um aluno – ou grupo – que entrega um trabalho completamente impregnado de erros básicos de gramática, concordância, regência e todo tipo de desacato à língua portuguesa, mesmo tendo se utilizado de editor de textos que corrige praticamente tudo.

Quanta pena de um aluno – ou grupo – que entrega um trabalho todo copiado da internet e que não consegue ter sequer a inteligência basilar de limpar a formatação da Wikipédia ou qualquer outra fonte mais elaborada que conseguir descobrir.

Que triste ver um aluno - ou grupo - que tem a coragem de submeter ao professor - e colegas - um seminário que consiste em mostrar uma sequência de slides cheios de textos minúsculos, copiados de algum lugar na internet, que vão se sobrepondo no quadro enquanto o aluno - ou grupo - apenas lê apressadamente esses textos, demonstrando completo desconhecimento do assunto e, pior, total falta de comprometimento com a atividade e completa ausência de bom senso em relação à capacidade perceptiva e avaliativa do professor.

Quanta desesperança nos invade quando um aluno completamente medíocre nos aborda, ao final de um semestre onde ficou comprovada sua total inapetência para a profissão que escolheu, pedindo que reconsideremos as notas conferidas às suas atividades, sem qualquer consciência de que as notas recebidas na academia não significam absolutamente nada no mercado de trabalho e, mais grave, sem entender que essas notas são um recado claro para que tente corrigir enquanto é tempo sua evidente falta de habilidade para o exercício profissional futuro.

Entendo que alguns alunos foram marcados pela arrogância e prepotência de professores que no passado, ou presente, lhes impediram de buscar e alcançar o conhecimento como efetivamente deve acontecer, negando a oportunidade da colocação de dúvidas, da participação sincera ou do debate sério e pertinente, mas não há professor interessado no crescimento de seus alunos que não se esforce para deixar claro repetidamente em sala de aula que todos os questionamentos e observações são muito bem vindos, categoria em que procuro sempre me enquadrar.

Ao final de mais um semestre, no qual, outra vez, vi de tudo, agradeço sinceramente aos alunos que novamente reacenderam a esperança de um mercado formado por profissionais mais conscientes, éticos e inovadores, mas aproveito também para alertar aqueles que insistem em pensar que a faculdade é uma empresa criada para atender às suas vontades – e não às suas necessidades – que ainda há tempo para entender melhor qual o seu papel nesse processo criado e desenvolvido para FORMAR profissionais e não para AGRADAR clientes que sequer conseguem entender quais são os seus reais direitos e deveres.

E o desejo mais sincero: que ao final do próximo semestre eu não precise postar este texto outra vez...

sexta-feira, junho 07, 2013

O "SideStage" junino e a exclusão da classe média


Exemplo de um Frontstage de verdade, tomando toda a frente do palco

O novo layout do Parque do Povo para o São João 2013 trouxe mudanças radicais e deve provocar efeitos profundos na dinâmica da festa. E considero todos positivos.

O principal deles, no meu entender, é a volta da classe média à arena de shows.

Ou melhor, era, porque a pressão da oposição parece estar surtindo efeitos e assessores da PMCG anunciam que o prefeito Romero decidiu retirar o frontstage que seria ocupado pelos frequentadores do camarote RioSierra/Celino Neto, baseado em acusações de que o espaço segregaria a população carente e não deixaria o povão ver seus artistas de perto.

Em relação a isso, cabem algumas importantes considerações:

1. É MENTIRA que a área impedirá as pessoas que nela não estiverem de assistir aos shows de perto. Na verdade o que tem sido chamado de Frontstage não é, de fato, um frontstage, já que essas áreas se caracterizam justamente por tomar a TODA A FRENTE do palco (ver foto da postagem). O frontstage instalado no Parque do Povo ocupa apenas aproximadamente um terço da frente do palco. Fica, na verdade, em frente às caixas de som do lado esquerdo do artista, com visão oblíqua do show. Seu nome mais apropriado seria SIDESTAGE.

2. Se considerarmos que a largura da arena em 2013 mais do que dobrou, mesmo com o tal do frontstage o povão ainda terá MUITO MAIS ESPAÇO na frente do palco do que tinha em anos anteriores, ou seja, NÃO HÁ PERDA. HÁ GANHO. Acredito que este deveria ser o argumento utilizado para justificar sua permanência.

3. Se o RioSierra adquiriu o espaço não compete à prefeitura justificar ou não o seu uso. O Parque do Povo sempre teve grandes áreas ocupadas por patrocinadores, que poderiam ser ocupadas por pessoas, principalmente nas noites de maior lotação, e isso nunca impediu a PMCG de comercializar os espaços para o que se denomina de “ativação de marketing promocional”. No ano passado mesmo havia pelo menos 10 grandes áreas do parque cedidas a empresas privadas, que as utilizavam como queriam, algumas em pontos de grande congestionamento de pessoas, que se lá não estivessem melhoraria muito a mobilidade no local. Na área dos shows, por exemplo, havia o enorme camarote da Contigo, para o qual, que eu saiba, ninguém do povão foi convidado.

4. (e mais importante) Nos últimos anos a arena de shows do Parque do Povo havia sido relegada a dois públicos específicos: o povão, que tomava todo o piso à frente do palco, e os convidados de patrocinadores e da organização do evento, normalmente pessoas de classe alta, algumas pagando caro pelos "convites", e pessoas ligadas à administração municipal, a grande maioria "chaleiras" do grupo que ocupava o poder, que também pagavam pelos convites, só que com moeda diferente da utilizada pelos ricos. Era simplesmente impossível para um fã disposto a pagar por um pouco mais de conforto ou uma pessoa que não quisesse entrar no empurra-empurra da zona do gargarejo e sem ligações políticas com a organização do evento conseguir assistir aos shows com o mínimo de visibilidade e comodidade.

Com o camarote RioSierra a PMCG conseguiu finalmente uma solução para que qualquer pessoa pudesse assistir ao seu show preferido com comodidade e a preços acessíveis, semelhantes ou até mais baratos do que o que se paga pela mesma comodidade em qualquer evento deste tipo, daqui ou de fora, privado ou público.

É importante que a atual administração consiga entender que há eleitores, como qualquer outro cidadão, que preferem assistir aos shows promovidos pela prefeitura e oferecidos à população de forma gratuita, com um pouco mais de conforto, assim como existem pessoas que preferem o carro ao serviço municipal de ônibus, que precisam gastar com um plano de saúde ao invés de se submeter ao SUS ou que acreditam que a melhor escola para os seus filhos é a privada e não a pública.

Quando se paga entre R$ 30 e 90 reais pelo acesso a uma área lateral ao palco não se está tirando o direito de ninguém de assistir ao show e nem se está tirando o caráter público - ou republicano - do evento. A Prefeitura, a priori, trocou aquele espaço por dinheiro que vai ajudar a contratar as atrações. Nada mais justo que oferecer ao patrocinador uma contrapartida por ter ajudado a trazer as atrações que o povo quer ver. Se a área é em um local onde as pessoas gostariam de estar, melhor ocupa-la com pessoas do que com infláveis, placas ou expositores como outras marcas fazem no próprio Parque do Povo.

O pagamento não é pelo show. É pelos custos com segurança e comodidade, pelos serviços oferecidos e, principalmente, pela possibilidade de ter um lugar onde se possa encontrar os amigos sem atropelos ou desencontros.

É preciso acabar com esse discurso de que "o povão tem prioridade absoluta" numa festa popular e que não se pode cobrar pelo espaço público. O CIDADÃO têm prioridade, pois TODOS são eleitores, independente da classe social ou do nível cultural. Se o espaço alvo da discórdia fosse maior do que o espaço de acesso livre, fazendo com que houvesse mais espaço para poucos e menos espaço para muitos, aí estava correta a polêmica, mas haverá multidões nos dois locais. As grades apenas darão mais tranquilidade a quem quiser pagar por ela e, inclusive, desafogará o trabalho da polícia militar, que terá uma área menor para patrulhar.

O carnaval do Rio de Janeiro é apenas para quem pagar. Pode ser lá longe, na arquibancada, ou numa mesa de pista quase tocando os passistas, mas TODO MUNDO PAGA.

No carnaval da Bahia é possível brincar de graça na pipoca, mas na hora em que o bloco vem a rua é de quem está dentro das cordas. Ou seja, torna-se espaço privado para quem pagar pelo direito de estar ali. E paga caro!

Isso acontecerá, por exemplo, amanhã mesmo aqui em Campina. Quero ver alguém ficar no caminho da Namoradrilha na hora em que o trio do Chiclete passar alegando que a rua é PÚBLICA.

A Oktoberfest brasileira acontece dentro de um grande galpão, onde as pessoas devem pagar para entrar, o que não exclui a característica pública da festa.

Na própria Micarande dos governos anteriores a arena era do povão, mas para não ser empurrado para as laterais pelos blocos durante a passagem pelo Parque do Povo e ver melhor os artistas era preciso pagar para estar na arquibancada, que era concedida pela prefeitura a uma empresa privada, mediante contrapartida. Ou seja, na hora em que o bloco passava pela mesma arena onde haverão os shows a partir de hoje, havia três espaços “privados” – arquibancada, camarotes e dentro da corda – e apenas uma área para o povão.

Com a retirada da área restrita a PMCG não ajudaria ninguém. Com ela ou sem ela a arena está muito maior e haverá espaço para todos.

O que conseguiria seria impossibilitar mais uma vez que qualquer pessoa que queira um ambiente um pouco menos apinhado e com melhor estrutura de serviços, e esteja disposta a pagar pelos custos disso, não tenha esse direito.

Consegue que os turistas mais exigentes e com melhores condições - aqueles que deixam mais recursos na cidade - continuem fugindo dos shows no Parque do Povo e sendo obrigados a pagar fortunas por entrada e bebidas nas casas de shows privadas, para ver shows que não têm nada a ver com a nossa cultura.

Consegue superlotar a área de pavilhões, provocando mal atendimento, preços abusivos e uma segregação inversa, pois não basta disponibilizar o espaço do piso superior para qualquer um. É preciso ter sensibilidade para atender suas necessidades, mesmo que mediante pagamento, para que não haja benefício em relação a outros.

Consegue, finalmente, evitar que o grande público formador de opinião da cidade, pouco afeito ao "vuco-vuco" das multidões, seja privado de desfrutar plenamente do São João em um espaço onde o conceito da atual administração com certeza iria decolar definitivamente a partir da interação entre aqueles que têm melhor capacidade de discernimento e maior senso crítico.

Confirmado o fim do “SideStage”, voltemos à velha rotina de ficar “passeando” entre os pavilhões.

E boa festa para os que puderem pagar pelos camarotes ou que conseguirem algum tipo de convite, o que, aliás, vai continuar existindo, em contradição ao discurso de que não haveria espaços privilegiados.

Pena que a pressão orquestrada por uma minoria com claros interesses em gerar polêmica e criar desinformação esteja tendo efeito ou que conselhos equivocados estejam sendo oferecidos e, principalmente, absorvidos.

Se a proibição do espaço “vingar”, aguardemos novas e cada vez maiores ondas de desinformação plantadas por opositores sistemáticos ao atual governo, baseadas no sucesso da atual ofensiva social-midiática.