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quinta-feira, abril 26, 2012

UEPB: Por uma eleição Digna


Iniciado oficialmente o processo de consulta pública à comunidade acadêmica para a indicação do novo reitor da UEPB, estou torcendo sinceramente para que a “campanha eleitoral” finalmente comece.

De Fato.

De Verdade.

É insuportável o número de e-mails que eu e outros colegas estamos recebendo com acusações e denúncias absolutamente infundadas, baseadas em disse-me-disse e no moído de alguns insatisfeitos que não cansam de estrebuchar por não terem interesses atendidos ou por terem benesses extintas.

Até agora não recebi UMA mensagem com propostas claras e exequíveis.

Sei que é um clichê de qualquer campanha, mas concordo que ao eleitor o que mais interessa é saber o que os candidatos pretendem realizar e não o que as pessoas acham disso ou daquilo. É óbvio que o histórico é importante, afinal quem nunca fez nada não terá jamais a condição de garantir que fará alguma coisa. Currículo é muito importante nessa hora, mesmo se for um currículo negativo, que nos ajude a decidir não votar naquela pessoa, mas currículos são feitos de documentos, realizações, eventos reais e não estorinhas e cavilações maldosas.

Se alguém tem uma opinião puramente pessoal a respeito de algum candidato que não mereceu a sua preferência, que guarde para si e use da melhor maneira na hora do voto. Opinião não é fato. É pessoal, subjetiva, inapropriada para um processo que se pretende que decida os próximos quatro anos do maior patrimônio cultural da Paraíba, atualmente ameaçado e extremamente carente de uma verdadeira corrente social de união em defesa de sua estabilidade política e institucional.

Será que esquecemos que para que possamos garantir nossos direitos comunitários é fundamental que, antes de mais nada, deixemos de lado nossas querelas particulares e lutemos pelo conjunto do qual fazemos parte? Primeiro nós, depois eu.

Obviamente faz parte do processo a divulgação de fatos que possam desabonar algum candidato, mas devem ser fatos, e não factóides, tratados como verdadeiros escândalos na falta de denúncias reais e comprovadas.

Essas ainda não apareceram.

Muita retórica, muito rame rame, nenhum documento.

Se é com o uso desse tipo de argumento que alguns acreditam poder lograr êxito em suas campanhas, só demonstram, por um lado, que não têm nada que realmente possa enfraquecer os seus oponentes e, por outro, que não têm mais nada para mostrar, pois utilizam o pouco tempo que temos para tentar destruir os demais ao invés de construir suas próprias imagens.

Não é transformando o outro em mau que alguém se tornará bom. Numa disputa democrática o importante é ser o melhor, independente de quão bom os outros sejam.

Minha esperança é que no momento em que os candidatos de verdade entrarem em cena a situação mude, pois, para meu contentamento, até agora não recebi nenhuma dessas baboseiras produzida por nenhuma candidatura, embora saiba bem a quem servem - ou querem servir - os seus autores e quais interesses realmente não foram atendidos para que tenham tantas mágoas e tanta disposição para a vitimização e denuncismo.

Tenho esperança que os candidatos cujos apoiadores estejam se utilizando de meios de divulgação em massa para tentar denegrir a imagem de pessoas que sequer participam do processo consigam controla-los e mostrar-lhes um caminho diferente, propositivo, positivo e construtivo, onde todos têm a ganhar, afinal, passada a eleição a UEPB deverá se unir ainda mais em torno de questões que interessam a todos e não apenas a uns poucos que tiveram seus interesses, nem sempre legítimos, atingidos.

Caso haja dificuldade em convencê-los, basta usar a máxima primária do marketing eleitoral: "Em campanha política, quem bate apanha".

Ao final do processo, o candidato de alguns será o Reitor de todos e a todos deverá respeito e atenção, desde que merecidos. Os que não merecerem não se iludam, não serão respeitados, pois o perfil de nenhum dos candidatos se coaduna com certas posturas de paspalhice e criancice que alguns teimam em manter, mesmo tendo inteligência suficiente para saber o quanto idiotas se fazem ver por qualquer um que tenha o mínimo de bom senso.

O caminho mais rápido e tranquilo para se ter algo é construindo. Para se destruir alguma coisa é preciso ter motivos fortes, insofismáveis e não opiniões pessoais baseadas na emoção e no rancor. Pior, contra fatos e realizações reconhecidos em âmbitos sob os quais não tem a atual administração da UEPB qualquer tipo de influência, quiçá algum controle.

Que possamos continuar o processo de construção da UEPB, seja com quem for à sua frente, unidos e conscientes da força dessa união.

Tenho comigo o compromisso de que quem quer que seja que saia vitorioso da disputa do próximo dia 16 terá o meu apoio incondicional, pois não acredito de nenhuma maneira que haja nenhuma pessoa minimamente mal intencionada entre os que disputam um posto que exige tanto de seu ocupante e que oferece muito mais agruras do que comodidades.

Que tenhamos, como é de se esperar de uma instituição formada em sua totalidade por pessoas capazes, competentes e conscientes de seu papel social e político, um processo eleitoral sem baixaria e sem infantilidade, com responsabilidade e bom senso.

E que vença o(a) melhor!

sábado, abril 21, 2012

Manual Prático da Boca de Urna




Mais do que qualquer sigla partidária, as iniciais BU (Boca de Urna) têm grande significado no cenário político-eleitoral brasileiro, com maior incidência na região Nordeste e poder decisivo absoluto nas eleições da Paraíba.

E como toda prática delituosa nascida ou adaptada à realidade brasileira, a BU encontra na Paraíba um de seus laboratórios mais especiais, com casos recheados de grande ironia, como o de um político que coletou junto aos seus eleitores os números de suas contas bancárias para depositar o valor referente à compra do voto e na noite da sexta-feira antes da eleição efetuou milhares de depósitos diretamente nos caixas eletrônicos, com envelopes cheios de santinhos de outros candidatos. Seria o caso de adaptar-se o ditado e transforma-lo em “corrupto que engana corrupto tem quatro anos de mandato”.

Em Campina Grande, especificamente, me atrevo a afirmar que a famigerada “Boca de Urna” é prática obrigatória para qualquer candidatura - majoritária - com o mínimo de vontade de realmente alcançar o sucesso nas urnas.

Mas, obedecendo ao título da postagem, vamos às instruções!

Se você será candidato nas próximas eleições e quer saber como garantir seu mandato sem muito esforço e não conhece ainda as táticas da compra de voto, é com prazer que lhe apresento umas dicas básicas, utilizadas pelos mais competentes compradores de votos dessas redondezas e que têm garantido anos e anos de vida boa para alguns espertalhões que ocupam cadeiras em órgãos do legislativo e executivo paraibano.

Etapa 01: ALISTAMENTO DE LIDERANÇAS
Nesta etapa, você se reunirá com pessoas que atuam em suas comunidades ou junto a determinados segmentos (associações, sindicatos, empresas, órgãos públicos etc.) como “lideranças”. Nem toda liderança vende votos, mas todo vendedor de votos se apresenta como liderança. O papel dessas pessoas é o de arregimentar aqueles que venderão seus votos a você. Para saber se uma liderança trabalha bem, o caminho mais seguro é analisar seu currículo de vendedor de votos. Primeiro, descubra para quem ele trabalhou nas campanhas passadas e depois verifique como foi o desempenho desses candidatos nas seções onde votam os eleitores que ele está lhe oferecendo. Mas cuidado! Tem liderança que vende como sua a “carteira” de outro ou aqueles que computam como seus os votos que o candidato já tinha naquela área. Para ter o máximo de segurança o bom mesmo é ver se aquela pessoa é uma liderança ativa e permanente, exercendo papel de destaque junto ao seu “mercado” e ajudando seus “fornecedores” também fora do período eleitoral. 

Normalmente, as lideranças mais competentes atuam junto a determinados órgãos públicos, facilitando o acesso de seus protegidos. A área de maior atuação é mesmo a Saúde, onde eles têm contatos que lhes ajudam a conseguir consultas, exames, medicamentos, cirurgias e tratamentos. Na Educação, as lideranças atuam conseguindo vagas em escolas e creches, transferências, espaços para eventos etc. Há também lideranças que atuam junto a setores como limpeza urbana e obras, conseguindo limpeza de terrenos e melhorias em ruas; na ação social, desenrolando cestas básicas e até caixões de defunto; nos órgãos de trânsito, tirando multas e conseguindo linhas de ônibus, licenciamentos de veículos e habilitações; e também em programas e projetos específicos, como Fome Zero, Minha Casa Minha Vida e outros.

Enfim, quanto mais fácil o trânsito da liderança pelos corredores do poder, melhor para você. O problema é que para conseguir esse acesso todo o comerciante de votos deve se relacionar bem com os governantes de plantão. Se você é um candidato de oposição, isso pode ser um problema, mas como a ética não significa muita coisa nesse meio, não será difícil trazer a liderança para o seu lado.

Etapa 02: MONTAGEM DA REDE
Aqui, antes de mais nada, uma observação: se você é candidato majoritário JAMAIS deverá tratar diretamente com qualquer liderança sobre BU. Essa função é dos candidatos da chapa proporcional ou, no máximo, dos coordenadores da campanha. Qualquer idiota sabe que não pode ser punido por algo que não fez ou que não sabia que estava sendo feito, mesmo tendo sido favorecido pelo ato. Nessa regrinha básica está a síntese de toda a impunidade eleitoral brasileira, então não a esqueça.

Voltando ao manual. Para não ter que falar aqui em operadores lógicos, teoria dos conjuntos, expressões booleanas ou coisa do tipo, que ajudam muito nesta fase, vamos simplificar: contrate pelo menos duas lideranças para cada conjunto de eleitores. Ou seja, dois compradores de votos em cada bairro, dois em cada grande empresa, dois em cada associação e assim por diante, sempre desconhecidos um do outro ou rivais na “atividade”.

Montando sua rede dessa forma, você aumentará substancialmente o seu índice de “queda” (termo utilizado para quando se diz que determinada parcela dos votos comprados “caiu na urna”), já que ajuda a eliminar aspectos importantes como as listas falsas (quando o vendedor promete o que não tem), a duplicidade (quando o eleitor vende seu voto a dois ou mais candidatos ao mesmo tempo) ou até a simples antipatia de uma parte dos eleitores daquele “nicho” em relação ao seu “representante”.

Sua rede deve ser organizada, basicamente, por áreas geográficas, segmentos e faixas etárias.

Etapa 03: VALIDANDO A REDE/MARCANDO LIDERANÇAS
Sua campanha deve ter uma estrutura mínima de inteligência, para deixa-lo sempre por dentro do que está acontecendo no mercado. Se uma liderança sua aparecer por aí de conversa com um adversário direto o sinal amarelo deverá ser aceso. Nesse sentido, é sempre bom validar a sua rede, marcando suas lideranças e mostrando aos seus concorrentes que “aquele ali tem dono”.

Essa marcação se dá normalmente através da realização de eventos onde essas lideranças sejam expostas ao máximo. A melhor estratégia, nesse caso, é realizar uma reunião com cada liderança, onde ela deverá juntar em algum lugar o máximo de eleitores que irá lhe vender, para que você os conheça, conquiste o pouco de vontade que lhes resta, verifique se a liderança tem mesmo o poder que está lhe vendendo e deixe claro para os vendedores de onde vem a grana.

Etapa 04: CAPTAÇÃO DE TÍTULOS
São várias as maneiras de computar o número de votos que você comprará. Algumas lideranças fazem listas, na maioria das vezes disfarçadas de abaixo-assinado comunitário, com os nomes e os números dos títulos de seus “representados”. Outras fazem cópias dos títulos. Estas e várias outras técnicas comumente têm buracos que as tornam menos efetivas, já que essas listas e cópias podem ser produzidas sem autorização de seus signatários, além de reproduzidas e vendidas várias vezes.

Com a recente decisão da Justiça de só aceitar o eleitor que apresentar documento com foto na hora da votação, a mais efetiva estratégia é a RETENÇÃO do título de eleitor original.

Funciona assim: a liderança coleta os títulos de seus eleitores e repassa para você, através de seu coordenador ou candidato a vereador, que fica com o original e devolve duas cópias: uma para a liderança e outra para o eleitor. Essas cópias só serão entregues no ato do pagamento e a cópia do eleitor deverá estar acompanhada da cola com os números nos quais ele deverá votar.

Você fica com o título original e só devolve depois da eleição e após a conferência dos votos que “caíram”.

Nem precisa dizer o quanto efetivo é dizer ao eleitor que ele só terá o título de volta se realmente votar em você.

Etapa 05: PAGAMENTO
Sabe aquela história de que na madrugada do sábado para o domingo é que se decide a eleição? É pura invenção, alimentada principalmente pelos candidatos que mais sabem comprar votos, pois esse tipo de tática normalmente só é colocada em prática por opositores desorganizados e desesperados, que, vendo a derrota iminente, tentam reverter o quadro distribuindo dinheiro e “presentes”.

Assim, quando a Justiça age ostensivamente nas horas que antecedem a votação para evitar ilícitos eleitorais, na verdade está servindo aos mais competentes compradores, que pagam por seus votos com o máximo de antecedência. Normalmente, até a quinta-feira o dinheiro já está todo distribuído com as lideranças, que usam diversas formas para entrega-lo aos seus fornecedores. A mais comum é a famosa “passadinha” antes de votar. O eleitor passa na casa da liderança ou de seus representantes, toma um cafezinho, recebe a cola e a grana e vai direto para a seção de votação.

Mas tem outras maneiras. Algumas lideranças pagam bem antes, algumas só pagam depois, outras pagam em produtos, em crédito no mercadinho e há até casos assustadores de lideranças que pagam em bebidas, farras e drogas.

Nesta etapa é importante ninguém querer ser esperto demais. O candidato tem que ter consciência que quanto mais a liderança ganhar, mais ela trabalha e a liderança tem que ser consciente para não repassar pouco demais para o eleitor e o voto não cair.

Por incrível que pareça, o modelo mais eficiente é baseado na “HONESTIDADE” (?) das partes, com o candidato pagando antecipado ao eleitor (a maioria das lideranças já retira uma pequena comissão dessa verba) e premiando a liderança após a votação, de acordo com o que “cair”. Esse modelo só funciona realmente com candidatos potencialmente eleitos, que pagam mais que a média e que têm relação permanente com suas lideranças.

Etapa 06: OPERAÇÃO BU
Não é porque você repassou o dinheiro quatro dias antes que vai deixar tudo na mão da liderança e esperar apenas pelo resultado das urnas. Para o candidato, os últimos dias são de intenso corpo-a-corpo, visitando o eleitorado (não as lideranças) para saber se está tudo dando certo. Eleitores desconfiados ou que ainda não foram atendidos é sinal de calote iminente e dá tempo de correr atrás da liderança para botar as coisas nos eixos. As lideranças devem ser acompanhadas de perto e até uma pesquisa informal junto aos eleitores cadastrados pode ser realizada para conferir se as coisas estão andando conforme o combinado.

No dia da eleição é sempre bom ver se a estratégia escolhida está sendo posta em prática, com uma equipe de acompanhamento permanente das lideranças, fornecendo transporte e alimentação para lideranças e eleitores que estejam trabalhando diretamente.

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Em síntese, é isso.

Obviamente este é o modelo básico e é muito mais fácil explicar do que colocar em prática de maneira efetiva e funcional.

Há várias outras modalidades e sistemas cada vez mais elaborados, com lideranças empregadas em órgãos públicos para garantir o encabrestamento permanente, cadastramento de eleitores baseado na prestação de serviços públicos e diversos meios de iludir o eleitor, fazendo-o acreditar na possibilidade de monitoramento de seu voto específico.

Também tem crescido os níveis de interação entre candidatos de um mesmo esquema, que já realizam conferência conjunta de listas para verificação de duplicidade.

O que não consigo, infelizmente, vislumbrar é uma maneira realmente eficiente de evitar a ocorrência desse fenômeno, que explica melhor que qualquer outro a baixa qualidade de nossos governos e representantes legislativos.

A Justiça não tem os meios para realmente estancar o problema e a legislação contribui diretamente para que não seja possível punir os culpados.

Só há uma maneira, no meu entender, de minimizar os efeitos da BU, que é inflacionando o mercado e implodindo o sistema. Acredito que quanto mais candidatos corruptos praticarem a compra de votos mais os votos aumentarão de preço e os resultados da compra influirão menos no resultado final da eleição.

Creio, sinceramente, que cada vez mais eleitores estão notando que o pouco que receberam em eleições passadas lhes fez eleger incompetentes e desonestos e que em breve os candidatos notarão que sai mais barato convencer o eleitor do que compra-lo e ser enganado por ele.

E que cada vez mais eleitores vendam seus votos e se vinguem escolhendo justamente aqueles que jamais tentariam comprar suas consciências.


Observação: o texto aqui publicado, de natureza muito mais irônica do que didática, não tem qualquer interesse em incentivar o uso das estratégias aqui relatadas. Muito pelo contrário, tem o condão de demonstrar o quanto é sujo e imoral o processo de cooptação de sufrágios mediante oferecimento de vantagens ilícitas, além de suscitar o debate em torno do assunto e contribuir para o desenvolvimento de estratégias eficientes de combate e punição dos que praticam a compra e venda de votos.

segunda-feira, abril 16, 2012

Conte-me Tudo

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Cássio, a UEPB e a invenção dos 100%


Durante os primeiros momentos após a quebra da Autonomia da UEPB pelo Governo do Estado, a maior expectativa de todos, principalmente dos representantes da Universidade, foi em relação ao posicionamento do Senador Cássio Cunha Lima diante dos documentos apresentados pela Reitoria e das justificativas dadas pelos representantes do Governo, entre eles o próprio Governador, que, em discurso público, chamou membros da UEPB de casta, de vagabundos, que não prestariam contas de milhões repassados pelo Estado.

Em um primeiro momento, Cássio conseguiu se manter afastado da discussão pela necessidade que tinha de prestar assistência ao pai, Ronaldo, que encontra-se gravemente enfermo.

Passado algum tempo, retornando gradualmente às suas atividades, Cássio não conseguiu mais se abster de opinar sobre o caso, instado não apenas pela imprensa paraibana, mas, sobretudo, pela comunidade acadêmica e por apoiadores históricos que buscaram no posicionamento do "pai" da Lei da Autonomia uma palavra de esclarecimento, até como forma de conseguirem formar suas próprias opiniões.

Em sua primeira declaração, a uma emissora de rádio, Cássio começou admitindo falhas na Lei por ele sancionada, que deixaria margens para diversas interpretações, e declarou que nas vezes em que, como Governador, foi obrigado a decidir sobre os pontos controversos da norma, sempre acolheu a tese da Universidade.

Foi um alívio para ambos os lados.

O Governo comemorou e até utilizou a declaração como justificativa para sua postura, alegando que é uma lei com falhas. Em alguns momentos, alguns governistas até se permitiram afirmar que a declaração do Senador era, na verdade, uma confissão de culpa por todo o imbróglio, já que ele teria assumido a criação de uma lei “mal feita” e que Ricardo apenas não aceitava uma norma com erros. Cássio seria o errado e Ricardo o certo. Ou Cássio o incompetente e Ricardo o competente.

Do lado da Universidade, todos se utilizaram da declaração de Cássio para demonstrar a má vontade do atual Governo em relação à UEPB, principalmente observando-se que durante mais de um ano o discurso do candidato e, posteriormente, Governador era de irrestrito apoio à instituição, com momentos de claras promessas de não só cumprir o que a Lei determina, mas, sobretudo, de sanar os problemas e contribuir para a ampliação e crescimento da Universidade.

Ficou uma dúvida no ar.

E em relação ao caso específico atual. Independente do que fez ou faria no cargo de Ricardo, qual a posição de Cássio como Senador da Paraíba, principal liderança política do Estado e que, como aliado da UEPB, sempre foi extremamente bem tratado por todos os que dela fazem parte?

Houve ou não houve quebra da Autonomia?

O Estado está ou não está desrespeitando a Lei?

A oportunidade apareceu durante o debate realizado pela TV Senado com Cássio e os demais representantes paraibanos na Câmara alta de Brasília. Colocado o assunto em pauta, Cícero e Vitalzinho logo posicionaram-se a favor da Universidade e declararam, em alto e bom som, que houve a quebra.

Cássio resistiu um pouco, mas não conseguiu fugir do assunto – até porque nunca foi de fugir a discussões – e apareceu com uma teoria que ninguém até o momento havia expressado e que finalmente mostrou o seu real posicionamento em relação à quebra da Autonomia.

Mais uma vez sem responder se houve ou não houve desrespeito à Lei por parte do atual Governo, Cássio declarou novamente que a lei que ele mesmo aprovou é falha e, ato contínuo, apresentou a falha. Segundo ele, caso a lei seja cumprida como a UEPB deseja, em alguns anos a Universidade terá direito a 100% do orçamento do Estado.

Cássio, conseguiu avançar a um ponto que nem o Governo, até então, havia conseguido.

Quando falou que 3% ainda seria um percentual válido para os repasses, o Governo se referia a um artigo da lei que não tem mais validade, pois que o percentual seguinte o anulou definitivamente. Mentiu, mas não inventou.

Quando o Governo falou que repassa para a UEPB, percentualmente, mais do que São Paulo repassa à USP, o Governo escondeu que São Paulo tem mais duas universidades estaduais e que o que a USP recebe, com pouco mais de quatro vezes o número de alunos da UEPB, é 20 vezes mais, em números absolutos. Omitiu, mas não inventou.

Quando o Governo disse que a UEPB recebe mais do que outros órgãos, como o Tribunal de Contas, o Ministério Público e a Assembleia Legislativa, deixando de mostrar que a UEPB tem praticamente 20 vezes mais paraibanos beneficiados pelos recursos do que todos estes órgãos juntos, o Governo distorceu, mas não inventou.

Cássio inventou.

Não há em nenhum lugar da Lei de Autonomia, nem se utilizarmos todas as possibilidades de interpretação que suas dubiedades permitem, qualquer possibilidade de que exista alguma condição de que a regra estabeleça que a Universidade deve ter aumentos percentuais anuais.

O que há, claramente, e não é esta a falha da lei – muito pelo contrário – é um dispositivo que determina que no momento em que o Governo repassar determinado percentual de suas receitas ordinárias líquidas para a Universidade, ele ficará impedido de diminuir esse número – percentualmente – nos exercícios seguintes.

Ou seja, se der 5% em um ano não pode dar 4,99% nos anos seguintes.

Mas também não precisa dar nada a mais.

Se o Governo decidir, por exemplo, cumprir a Lei da Autonomia e a Lei do Orçamento 2012, onde o próprio Governo estabeleceu que repassaria 5,77% do Orçamento deste ano para a UEPB e nos anos seguintes não quiser mais aumentar sequer 0,01% deste percentual, não há absolutamente NADA na Lei que o obrigue, nem interpretação que permita esse entendimento.

O Governo pode, se quiser, dar 5,77% PARA SEMPRE.

100%?


Cássio inventou isso.


Ou alguém inventou e ele acreditou.

O que a UEPB defende, desde o início da discussão, é apenas que o Governo cumpra o que ele mesmo estabeleceu, que é o que consta do Orçamento de 2012, uma lei criada pelo Governo, aprovada pela Assembleia e sancionada pelo Governador.

Se o Governador acredita que o Orçamento é uma lei “volúvel”, é ele o primeiro a desrespeitar suas próprias regras e ele é quem deverá lidar com isso do ponto de vista ético e moral, agora e no futuro.

Mas se o Governo decide que não irá cumprir seu próprio Orçamento, a Lei da Autonomia é a segurança que a Universidade tem para garantir sua sobrevivência e se a Lei não obriga a aumentar – isso é invenção! – a Lei é clara quanto a diminuir: NÃO PODE.

Sendo assim, havendo documentos do próprio Governo declarando que a Universidade recebeu em 2009 repasses no valor de 5,52% das receitas ordinárias líquidas do Estado, esse é o MÍNIMO que o Governo DEVE repassar em 2012, além das diferenças entre o que foi efetivamente repassado e esse mesmo percentual nos anos de 2010 e 2011, o que dá a soma aproximada de 200 milhões de reais que o Governo tinha a OBRIGAÇÃO LEGAL de repassar e não repassou, principalmente pelo fato do atual Governador apelar à Reitoria, diante das dificuldades encontradas, por paciência e sensibilidade.

Se é muito dinheiro? Claro que é!

Se está sendo mal utilizado?

O Governo alega que sim.

Os professores, funcionários, alunos e, principalmente, os NÚMEROS do crescimento da UEPB, em todos os setores, desde a conquista da Autonomia, apresentados recentemente em um seminário técnico de prestação de contas aberto ao público, comprovam que não.

E o resto é INVENÇÃO.

domingo, abril 15, 2012

O Prefeito é o REAL



Eleição Garantida!

Na contramão de outras regiões do país, Campina Grande começa as discussões de bastidores sobre as eleições municipais deste ano revelando atitudes que demonstram que ainda estamos muito distantes do que poderia ser chamado de processo democrático.

Com várias candidaturas a serem lançadas e vários pré-candidatos tentando se viabilizar em vários aspectos – político, operacional, financeiro etc. – o período é de muitas conversas de bastidores e consultas, estas principalmente na forma de pesquisas para consumo interno, patrocinadas por partidos e candidatos que desejam auferir permanentemente a temperatura da cidade em relação ao pleito.

Diferente de campanhas passadas, quando alguns candidatos logravam êxito apenas na base do feeling, desta vez a ciência dos números está por trás de muitas posturas, atitudes e decisões dos pré-candidatos e das principais lideranças da cidade.

Todos os esquemas políticos mais organizados de Campina estão mantendo atualizada uma agenda de pesquisas quantitativas e qualitativas - a maioria, mensal - que norteiam desde já os passos de seus candidatos e as negociações com os partidos de sua base, com os apoiadores de campanha e até com a mídia.

Mas se engana quem acha que essas pesquisas têm servido apenas para verificar as potencialidades e defeitos dos candidatos e a percepção da população a seu respeito. Elas têm ultrapassado, e muito, a esfera dos assuntos diretamente ligados à eleição e, em alguns casos, permeiam assuntos que jamais deveriam ser abordados nesse tipo de consulta, do ponto de vista ético.

Mas ética não é das coisas mais praticadas em processos eleitorais, nem aqui e nem em lugar nenhum, faz muito tempo.

Para se ter uma ideia, além das informações específicas em relação a candidatos, partidos e lideranças, alguns contratantes estão solicitando às empresas de pesquisas dados atualizados sobre a real audiência dos veículos de comunicação de Campina, o que não é anormal, mas não deixa de ser interessante, já que a pré-candidatos não é permitido investir, pelo menos oficialmente, em mídia comercial.

Mas o que me deixou impressionado nesses últimos dias foi saber de dois itens incluídos entre o rol de informações a serem captadas em duas pesquisas de consumo interno realizadas recentemente em Campina Grande.

Uma, qualitativa, procurou analisar em seus grupos de estudo o impacto da divulgação na mídia (principalmente nas redes sociais, mas, também, em veículos de massa simpáticos à causa) de imagens onde determinados atores políticos ligados diretamente ao processo sucessório municipal aparecem em situação constrangedora no tocante à sua situação matrimonial oficial. Os pesquisadores perguntaram aos pesquisados o que eles achavam que aconteceria se essas imagens fossem divulgadas nas mídias sociais e na TV. Duas coisas interessantes devem ser destacadas: a primeira, que os pesquisadores afirmaram que as imagens existem, mas não as mostraram aos entrevistados; a segunda, que a grande maioria dos entrevistados disse já saber da situação que possivelmente teria sido captada por uma câmera indiscreta. O resultado, em linhas gerais, dessa parte da pesquisa, é que a situação é majoritariamente conhecida da população, mas que a divulgação das imagens seria extremamente prejudicial ao projeto político dos envolvidos. A dúvida que fica dessa história e se essa carta realmente existe na manga de alguém e se já pode estar sendo usado ou está guardada para um momento mais à frente, não se sabe em que contexto.

A segunda pesquisa, quantitativa, incluiu em seu questionário, textualmente, as seguintes perguntas:

- Você aceitaria "vender" seu voto nessa eleição? (sim / não).

- Por quanto você venderia seu voto para prefeito? (R$ 25,00 / R$ 50,00 / R$ 70,00 / R$ 100,00)

No caso desta última questão, o resultado da pesquisa é assustador.

Me permito não citar o número específico ao qual tive acesso, mas, para se ter uma ideia, a “preço” de hoje, baseado nas pesquisas divulgadas recentemente sobre a sucessão, o futuro Prefeito de Campina Grande é o REAL!

quinta-feira, abril 12, 2012

O BEM que a ignorância faz



Na defesa feita pelos que apoiaram a permissão para o aborto de bebês anencéfalos, o principal argumento foi de que seria impor um sofrimento desnecessário fazer com que pais esperassem meses por uma criança que eles saberiam que não iria sobreviver.


E quem vai sobreviver?



O velho pai que tem problema cardíaco vai sobreviver? Então por que não o matar logo? Para que ficar esperando e tentando soluções paliativas?



A avó acamada, que não fala, não ouve, não vê, não anda. O que a difere de uma criança anencéfala? Porque não executá-la?



E o pobre primo deficiente, que jamais se tornará um membro "produtivo" da sociedade? Para que ele "serve"? Por que mantê-lo vivo? Apenas por causa daquele olhar, daquele sorriso, daquele abraço?



O que você daria para ter mais 10 dias, 10 horas, 10 minutos com aquela pessoa que já se foi, mesmo que "só" fosse permitido olhá-la nos olhos e ver em sua face todo o amor do mundo, sem qualquer sombra de maldade?



Mesmo sabendo que ela voltaria apenas para ter esses tênues momentos de afeição e mais nada, você esperaria 9 meses? E nove anos? E noventa?



Em poucos momentos se aprende mais do que em uma vida inteira.



Em algumas horas com uma criança que você esperou durante nove meses é possível aprender mais sobre amor, caridade, perseverança, superação, desapego e sobre a VIDA do que ao longo de várias existências.



A Justiça brasileira tirou, hoje, de alguns brasileiros, a oportunidade de grandes progressos espirituais, mas, curiosamente, concedeu a todos nós a possibilidade de demonstrar de maneira muito mais verdadeira o real entendimento das leis de Deus.



A Justiça nos fez um BEM.



Que a consciência dos senhores Ministros esteja limpa.



Já que a eles foi dada a oportunidade de ter cérebros nesta vida, muito bom seria se eles pudessem ter certeza de que fizeram bom uso deles.



E que a decisão de hoje, se o for, seja a única exceção.

quarta-feira, abril 11, 2012

O Xadrez do Governador



Esses dias, conversando com algumas das cabeças mais iluminadas da Paraíba, tive contato com uma teoria que pode explicar como funciona a estratégia política governista em João Pessoa para as próximas eleições.

É difícil acreditar que os níveis de manipulação da opinião pública tenham avançado a este ponto, mas, enfim, como a Paraíba é o Estado onde taxista dá carona, prostituta se apaixona, traficante se vicia e governante só obedece às leis que quer...

A idéia básica, que parece cada vez mais verossímil, aponta para o seguinte plano, que apresento topicamente:

1. A partir de pesquisas que demonstravam que as ações de seu governo estavam influenciando negativamente na imagem de seu candidato, o Prefeito Luciano Agra, e aproveitando-se do fato de que Luciano estava profundamente magoado com a falta de reconhecimento, por parte da população, pois imaginava que com sua ascensão ao povo finalmente iria perceber de quem era o mérito pelos avanços alcançados nos últimos anos, o Governador decidiu que o Prefeito deveria se retirar – temporariamente – da disputa pela reeleição, determinando que o mesmo se dedicasse inteiramente ao governo e que, na medida do possível, se desvinculasse do Governador e das ações que têm influenciado negativamente na percepção da população sobre a administração estadual. Em alguns pontos, Luciano teria sido orientado, inclusive, a discordar do Governador.

2. Para o lugar de Luciano, Ricardo escolheria alguém que tivesse profundas ligações com o seu projeto de poder original, no esfacelado “coletivo”, de maneira a reagrupar seus colaboradores mais fiéis, órfãos dos espaços antes ocupados no município e também decepcionados com o rumo do Governo Estadual, em torno de um projeto que, ao mesmo tempo em que os envolvesse e ocupasse seu tempo e energias, os afastasse do núcleo de poder político, deixando-o livre para resolver certas pendências administrativas e começar a captar a “estrutura” da campanha próxima de uma maneira que muita gente no coletivo ainda não acredita que existe na era atual.

Convocou Estelizabel.

Queria uma folga do coletivo. O mandou "ir com ela".

3. Percebendo que Luciano, na volta à candidatura e em um possível segundo governo poderia fugir do seu controle e, adicionalmente, vislumbrando as crescentes insatisfações entre os veículos e profissionais de comunicação que não foram contemplados pelas suas “políticas midiáticas”, Ricardo tratou de pensar em alguém para polarizar as discussões sobre a sucessão, eliminando do debate todos os demais candidatos e partidos pretendentes, “amansando” os medias e preparando o terreno para a formação da chapa futura. 

Provocou o lançamento da pré-candidatura de Nonato.

4. A situação deveria se estender até às vésperas das convenções. Luciano se dedicando integralmente ao seu Governo e negando a volta, mas sempre deixando algumas pulgas atrás das orelhas dos analistas e da população. Estelizabel mobilizando a militância ricardista, renovando as esperanças de um governo socialista na Prefeitura, já que o projeto original não vingou no Estado, mantendo o coletivo ocupado nas atividades de pré-campanha e afastado das negociações políticas para as próximas eleições no resto do Estado. 

Nonato, por sua vez, deveria focar suas ações principalmente na mídia, através da participação em eventos, ocupando espaços jornalísticos e fazendo contatos com os colegas, “vendendo-se” como a esperança de que um futuro governo seu pudesse acomodar aqueles que não têm o espaço desejado na estrutura estadual.

Por tabela, com toda a espuma gerada pelas movimentações governistas, os candidatos oposicionistas ficariam relegados a figurantes da disputa, ofuscados pelo que o mainstream da imprensa paraibana atual adora, que é se aproveitar dessas situações para fazer o que tem feito de melhor ultimamente: faturar!

O desfecho da estratégia seria relativamente simples: após alguns meses sem sofrer ataques e ocupando espaços na mídia apenas com suas ações administrativas e através das iniciativas pedindo sua volta à disputa, Luciano retornaria à condição de candidato, livre da carga negativa de ter sido o candidato de Ricardo ao longo de um período extremamente desgastante, com uma imagem fortalecida e mais independente. 

Estelizabel, que levaria até junho a marca de “candidata de Ricardo” não conseguiria se viabilizar como candidata à Prefeitura, mas seria elevada à condição de futura vereadora do coletivo, com a promessa de Ricardo de trabalhar ativamente pela sua eleição. 

Nonato, na condição de preferido da mídia, seria escolhido como o vice capaz de manter Luciano na linha, acomodar setores da imprensa em um futuro governo e evitar disputas pela vaga entre os demais partidos da base, desobrigando Ricardo de engolir um vice que não lhe agradasse, como tem ocorrido em algumas de suas eleições.

Dando tudo certo, Ricardo terá dado um verdadeiro checkmate nos demais candidatos e nos próprios parceiros, viabilizando uma chapa “toda sua”, sem precisar ceder espaços para aqueles grupos e partidos com os quais se relaciona sem muito entusiasmo.

Com o afastamento temporário de Luciano e a independência adquirida por ele próprio e por Nonato no período de “revolta”, estarão eles livres de desgaste antecipado e, mesmo com o apoio estadual, poderão vender uma imagem de diferença entre suas propostas e o estilo de governar de Ricardo.

Ao apoiá-los, Ricardo também garante o seu quinhão junto à opinião pública, produzindo a percepção de que sabe ceder, perdoar, convencer e aglutinar, resgatando o espírito democrata que sempre tentou vender a todo custo, mesmo seus atos o contradizendo a todo instante.

E no caso de alguém interpelar os peões da partida, acusando-os de serem apenas peças minoritárias do jogo do governador, poderiam até usar a frase da moda: “Nós somos amigos de Ricardo, mas não somos propriedade dele”.

Colocada em prática a estratégia, resta saber se todos irão cumprir seus papéis conforme o script.

Será que vai dar certo?