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quinta-feira, maio 19, 2011

A PMJP e a CRISE do Munguzá


Eu fiquei foi com vontade de comer Munguzá!
Baixada a poeira do “Caso da Merenda”, sem o interesse de entrar na discussão que ocupou muito espaço na mídia paraibana ao longo das últimas duas semanas (corrupção, cardápios, interesses de grupos de comunicação), ao acompanhar desde a exibição da matéria do Fantástico até a maioria dos desdobramentos, em praticamente todos os veículos estaduais, o que mais me impressionou foi a forma como a prefeitura de João Pessoa lidou com a crise.

Palavra manjada e muito debatida nos cursos, fóruns e discussões sobre consultoria e assessoria de comunicação e marketing, a CRISE é, para jornalistas e consultores, o equivalente a INCÊNDIO para bombeiros e paramédicos: você nunca sabe se ou quando vai acontecer, mas precisa estar muito bem preparado.

E a PMJP mostrou que não estava.

Comparando a um incêndio, se o fosse o caso da merenda, a prefeitura tinha, para começar, a mais importante arma para combate-lo: a antecipação. A prefeitura sabia que a reportagem estava sendo realizada, o seu tema e quando seria veiculada. Podia, antes mesmo da divulgação, ter procurado TODOS os que foram abordados pela equipe da Rede Globo, realizado uma espécie de acareação e apurado, basicamente, tudo o que a emissora teria e que poderia ser apresentado como falha da administração.

Não fez.

Poderia, por exemplo, ter produzido e veiculado ainda no domingo em jornais, sites, rádios e tevês peças informativas e publicitárias sobre a qualidade do ensino, da merenda, mostrando depoimentos de nutricionistas, pais, alunos, professores, fornecedores... ...e trabalhando com números como a quantidade de escolas que são atendidas pela merenda (se a matéria só gravou em uma, não poderia falar do todo), o “cardápio regional” (eu assumo que fiquei com vontade de comer munguzá assistindo à matéria!), os controles exercidos sobre o fornecedor e, principalmente, adiantar que o modelo terceirizado será substituído em breve. (algo como: “a Prefeitura está fazendo o melhor, mas nós queremos mais e em breve um novo modelo será implantado, trazendo mais qualidade, eficiência e satisfação para todos”.)

Não fez.

Veiculada a reportagem na noite do domingo, pelo que sei, apenas na manhã da segunda houve algum tipo de articulação dos setores envolvidos (educação, comunicação, jurídico etc.) para avaliar os estragos e preparar a reação. Horas depois da repercussão nos sites, blogs e, principalmente, nos radiojornais matutinos, que têm substancial importância na formação de opinião da população paraibana em todos os níveis. E se um amplo dossiê, um verdadeiro banco de dados, tivesse sido produzido assim que se soube da produção da matéria? E se uma equipe multidisciplinar (comunicólogos, administradores escolares, advogados, nutricionistas, pediatras etc.) tivesse queimado as pestanas durante a madrugada produzindo releases, articulando espaços e organizando uma coletiva com o prefeito, a secretária de educação, o representante da SP alimentação, representantes dos conselhos de pais e outros atores do caso? E se representantes do MP, da OAB, da API, de sindicatos, associações, enfim, tivessem sido convidados para uma visita à escola mostrada na matéria, para não apenas acompanhar o serviço oferecido, mas, principalmente, para entrevistar alunos, professores e pais?

Nada foi feito.

E o que foi feito?

Vereadores foram envolvidos na trama e passaram a representar o prefeito em entrevistas e debates, com claro desconhecimento do que estavam defendendo e, na maioria da vezes, até assumindo como sendo de João Pessoa problemas apresentados em outras cidades.

Falaram de higiene. Não houve nenhuma alusão a falta de higiene.

Falaram de corrupção. Não houve nenhuma denúncia sequer de indícios de irregularidades em relação a João Pessoa.

Falaram de precariedade no atendimento (falta de comida). Pelo contrário. Sobrou comida em JP.

No final das contas, o que poderia se reverter em uma ótima oportunidade para a assessoria transformar no ponto de partida da reeleição de Luciano Agra virou um motivo para a oposição cair em cima, falando até em impeachment e alardeando uma espécie de metástase da corrupção em todos os setores da administração municipal, ressuscitando denúncias esquecidas.

Culparam o mensageiro. Atacaram a Rede Globo e tentaram fazer a população acreditar que a emissora teria sido manipulada pela afiliada, mesmo a matéria tendo sido sobre vários estados (sem participação de repórteres ou cinegrafistas locais) e realizada por uma equipe do Rio de Janeiro. Não colou.

Ao invés de diferenciar João Pessoa das demais cidades, onde a situação é bem mais grave, deixaram que a imprensa e a oposição confundissem tudo e ainda esqueceram de apresentar informações sobre outras cidades onde haja ainda mais problemas (com o óbvio cuidado de não parecer o sujo falando do mal lavado).

A experiência batizada com o sensacionalista termo “Escândalo da Merenda” pode ser um grande aprendizado não somente para os que cuidam da imagem da prefeitura, mas também para todos os setores da administração e os que são sempre convocados para representa-la.

Se não servir, adeus reeleição, pois a oposição está igual ao CQC, na base do “custe o que custar”.

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