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quarta-feira, maio 08, 2013

E SE VOCÊ MORASSE NA FAVELA DA CORÉIA?


Casas e carros metralhados na madrugada. A quem reclamar?

A nova modinha das redes sociais é defender os policiais cariocas que participaram da operação que resultou na morte do traficante Márcio José Sabino Pereira, mais conhecido como "Matemático".

Mais uma vez, as pessoas tentam reduzir a discussão ao discurso "bandido bom é bandido morto" e, para isso, usam dos argumentos mais absurdos.

Por exemplo, comparam o caso ao dos irmãos russos que detonaram as bombas na maratona de Boston, alegando que os policiais americanos foram elogiados e os nossos estão sendo investigados. Para isso, usam as imagens das câmeras com visão térmica. Esquecem que no caso americano a câmera foi utilizada para encontrar o fugitivo dentro de uma lancha, saber exatamente em que lugar ele estava e se não estava armado. Ao invés de tiros do helicóptero, os policiais jogaram bombas de gás dentro do barco e prenderam o acusado vivo.

Falam que os representantes dos direitos humanos estariam acusando os policiais pela
Prisão de Dzhokhar Tsarnaev em Boston: nenhum tiro disparado.
operação e que eles não defendem quem realmente merece, que são os doentes em hospitais, as crianças abandonadas etc. Quem está solicitando o desarquivamento do inquérito é o Ministério Público e não para defender o traficante, mas para averiguar por que a perseguição a tiros não consta da versão apresentada pelos policiais. 

Afinal, se a maneira como a captura se deu foi correta que motivo teriam os policiais para apresentar outra história?

Quanto aos direitos humanos, é preciso parar com essa mania de dizer que eles só defendem bandidos. Os direitos humanos defendem sim os pacientes maltratados em hospitais, as crianças abandonadas e as mulheres violentadas, mas isso não dá matéria em jornal, então é bem melhor apenas critica-los quando investigam excessos policiais ou mal tratos a presos que, mesmo em uma mínima parte, podem ser inocentes ou, mesmo culpados, não há justificativa para que sejam tratados como animais, a não ser que a sociedade deseje deles o troco em revolta e vingança na volta à liberdade.

Visita de um representante dos Direitos Humanos a um
hospital. Notícia que não "vende" jornal.
E, finalmente, o que você acharia de ter um helicóptero sobrevoando a sua casa durante a madrugada atirando com balas de alto calibre e atingindo várias casas e prédios da rua, com perigo de atingir você e sua família. Alguns dirão: "Ah, mas eu não moro em favela. Quem mora em favela é tudo traficante!" Outros dirão "Mas ninguém foi atingido, ninguém reclamou, ninguém procurou a imprensa para denunciar." Você acha que é possível a uma pessoa que mora em uma favela dominada pelo tráfico reclamar que houve um tiroteio em sua rua durante a madrugada e que várias balas atingiram sua casa? Vai reclamar a quem, aos bandidos que dominam a área ou aos policiais que invadiram a região "quebrando tudo"?

Se fosse numa rua de um bairro de classe média ou alta, se fosse na SUA rua você não estaria defendendo a operação. Se fosse em uma rua onde houvesse pessoas com liberdade para denunciar arbitrariedades e cobrar punição por falhas de procedimento obviamente os próprios policiais não teriam coragem de sair dando tiros a torto e a direito como deram na favela da Coréia.

O que os policiais demonstraram não foi coragem e competência. Competentes seriam se tivessem apreendido o bandido vivo e sem disparar um único tiro, como fizeram os policiais de Boston. Corajosos seriam se tivessem peito para entrar na favela e combater cara-a-cara os traficantes que dominam até hoje a região, impondo o medo não apenas aos moradores do local, mas, sobretudo, aos que deveriam ali manter a paz e a ordem.

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