Páginas

sexta-feira, junho 07, 2013

O "SideStage" junino e a exclusão da classe média


Exemplo de um Frontstage de verdade, tomando toda a frente do palco

O novo layout do Parque do Povo para o São João 2013 trouxe mudanças radicais e deve provocar efeitos profundos na dinâmica da festa. E considero todos positivos.

O principal deles, no meu entender, é a volta da classe média à arena de shows.

Ou melhor, era, porque a pressão da oposição parece estar surtindo efeitos e assessores da PMCG anunciam que o prefeito Romero decidiu retirar o frontstage que seria ocupado pelos frequentadores do camarote RioSierra/Celino Neto, baseado em acusações de que o espaço segregaria a população carente e não deixaria o povão ver seus artistas de perto.

Em relação a isso, cabem algumas importantes considerações:

1. É MENTIRA que a área impedirá as pessoas que nela não estiverem de assistir aos shows de perto. Na verdade o que tem sido chamado de Frontstage não é, de fato, um frontstage, já que essas áreas se caracterizam justamente por tomar a TODA A FRENTE do palco (ver foto da postagem). O frontstage instalado no Parque do Povo ocupa apenas aproximadamente um terço da frente do palco. Fica, na verdade, em frente às caixas de som do lado esquerdo do artista, com visão oblíqua do show. Seu nome mais apropriado seria SIDESTAGE.

2. Se considerarmos que a largura da arena em 2013 mais do que dobrou, mesmo com o tal do frontstage o povão ainda terá MUITO MAIS ESPAÇO na frente do palco do que tinha em anos anteriores, ou seja, NÃO HÁ PERDA. HÁ GANHO. Acredito que este deveria ser o argumento utilizado para justificar sua permanência.

3. Se o RioSierra adquiriu o espaço não compete à prefeitura justificar ou não o seu uso. O Parque do Povo sempre teve grandes áreas ocupadas por patrocinadores, que poderiam ser ocupadas por pessoas, principalmente nas noites de maior lotação, e isso nunca impediu a PMCG de comercializar os espaços para o que se denomina de “ativação de marketing promocional”. No ano passado mesmo havia pelo menos 10 grandes áreas do parque cedidas a empresas privadas, que as utilizavam como queriam, algumas em pontos de grande congestionamento de pessoas, que se lá não estivessem melhoraria muito a mobilidade no local. Na área dos shows, por exemplo, havia o enorme camarote da Contigo, para o qual, que eu saiba, ninguém do povão foi convidado.

4. (e mais importante) Nos últimos anos a arena de shows do Parque do Povo havia sido relegada a dois públicos específicos: o povão, que tomava todo o piso à frente do palco, e os convidados de patrocinadores e da organização do evento, normalmente pessoas de classe alta, algumas pagando caro pelos "convites", e pessoas ligadas à administração municipal, a grande maioria "chaleiras" do grupo que ocupava o poder, que também pagavam pelos convites, só que com moeda diferente da utilizada pelos ricos. Era simplesmente impossível para um fã disposto a pagar por um pouco mais de conforto ou uma pessoa que não quisesse entrar no empurra-empurra da zona do gargarejo e sem ligações políticas com a organização do evento conseguir assistir aos shows com o mínimo de visibilidade e comodidade.

Com o camarote RioSierra a PMCG conseguiu finalmente uma solução para que qualquer pessoa pudesse assistir ao seu show preferido com comodidade e a preços acessíveis, semelhantes ou até mais baratos do que o que se paga pela mesma comodidade em qualquer evento deste tipo, daqui ou de fora, privado ou público.

É importante que a atual administração consiga entender que há eleitores, como qualquer outro cidadão, que preferem assistir aos shows promovidos pela prefeitura e oferecidos à população de forma gratuita, com um pouco mais de conforto, assim como existem pessoas que preferem o carro ao serviço municipal de ônibus, que precisam gastar com um plano de saúde ao invés de se submeter ao SUS ou que acreditam que a melhor escola para os seus filhos é a privada e não a pública.

Quando se paga entre R$ 30 e 90 reais pelo acesso a uma área lateral ao palco não se está tirando o direito de ninguém de assistir ao show e nem se está tirando o caráter público - ou republicano - do evento. A Prefeitura, a priori, trocou aquele espaço por dinheiro que vai ajudar a contratar as atrações. Nada mais justo que oferecer ao patrocinador uma contrapartida por ter ajudado a trazer as atrações que o povo quer ver. Se a área é em um local onde as pessoas gostariam de estar, melhor ocupa-la com pessoas do que com infláveis, placas ou expositores como outras marcas fazem no próprio Parque do Povo.

O pagamento não é pelo show. É pelos custos com segurança e comodidade, pelos serviços oferecidos e, principalmente, pela possibilidade de ter um lugar onde se possa encontrar os amigos sem atropelos ou desencontros.

É preciso acabar com esse discurso de que "o povão tem prioridade absoluta" numa festa popular e que não se pode cobrar pelo espaço público. O CIDADÃO têm prioridade, pois TODOS são eleitores, independente da classe social ou do nível cultural. Se o espaço alvo da discórdia fosse maior do que o espaço de acesso livre, fazendo com que houvesse mais espaço para poucos e menos espaço para muitos, aí estava correta a polêmica, mas haverá multidões nos dois locais. As grades apenas darão mais tranquilidade a quem quiser pagar por ela e, inclusive, desafogará o trabalho da polícia militar, que terá uma área menor para patrulhar.

O carnaval do Rio de Janeiro é apenas para quem pagar. Pode ser lá longe, na arquibancada, ou numa mesa de pista quase tocando os passistas, mas TODO MUNDO PAGA.

No carnaval da Bahia é possível brincar de graça na pipoca, mas na hora em que o bloco vem a rua é de quem está dentro das cordas. Ou seja, torna-se espaço privado para quem pagar pelo direito de estar ali. E paga caro!

Isso acontecerá, por exemplo, amanhã mesmo aqui em Campina. Quero ver alguém ficar no caminho da Namoradrilha na hora em que o trio do Chiclete passar alegando que a rua é PÚBLICA.

A Oktoberfest brasileira acontece dentro de um grande galpão, onde as pessoas devem pagar para entrar, o que não exclui a característica pública da festa.

Na própria Micarande dos governos anteriores a arena era do povão, mas para não ser empurrado para as laterais pelos blocos durante a passagem pelo Parque do Povo e ver melhor os artistas era preciso pagar para estar na arquibancada, que era concedida pela prefeitura a uma empresa privada, mediante contrapartida. Ou seja, na hora em que o bloco passava pela mesma arena onde haverão os shows a partir de hoje, havia três espaços “privados” – arquibancada, camarotes e dentro da corda – e apenas uma área para o povão.

Com a retirada da área restrita a PMCG não ajudaria ninguém. Com ela ou sem ela a arena está muito maior e haverá espaço para todos.

O que conseguiria seria impossibilitar mais uma vez que qualquer pessoa que queira um ambiente um pouco menos apinhado e com melhor estrutura de serviços, e esteja disposta a pagar pelos custos disso, não tenha esse direito.

Consegue que os turistas mais exigentes e com melhores condições - aqueles que deixam mais recursos na cidade - continuem fugindo dos shows no Parque do Povo e sendo obrigados a pagar fortunas por entrada e bebidas nas casas de shows privadas, para ver shows que não têm nada a ver com a nossa cultura.

Consegue superlotar a área de pavilhões, provocando mal atendimento, preços abusivos e uma segregação inversa, pois não basta disponibilizar o espaço do piso superior para qualquer um. É preciso ter sensibilidade para atender suas necessidades, mesmo que mediante pagamento, para que não haja benefício em relação a outros.

Consegue, finalmente, evitar que o grande público formador de opinião da cidade, pouco afeito ao "vuco-vuco" das multidões, seja privado de desfrutar plenamente do São João em um espaço onde o conceito da atual administração com certeza iria decolar definitivamente a partir da interação entre aqueles que têm melhor capacidade de discernimento e maior senso crítico.

Confirmado o fim do “SideStage”, voltemos à velha rotina de ficar “passeando” entre os pavilhões.

E boa festa para os que puderem pagar pelos camarotes ou que conseguirem algum tipo de convite, o que, aliás, vai continuar existindo, em contradição ao discurso de que não haveria espaços privilegiados.

Pena que a pressão orquestrada por uma minoria com claros interesses em gerar polêmica e criar desinformação esteja tendo efeito ou que conselhos equivocados estejam sendo oferecidos e, principalmente, absorvidos.

Se a proibição do espaço “vingar”, aguardemos novas e cada vez maiores ondas de desinformação plantadas por opositores sistemáticos ao atual governo, baseadas no sucesso da atual ofensiva social-midiática.

Um comentário:

Simone Duarte disse...

Bastante esclarecedor!!! Parabéns!!