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terça-feira, janeiro 24, 2012

Até no Facebook, tudo pela "audiência"!

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Lembra de quando o apresentador Ratinho curtiu sua época de maior sucesso na TV? O principal bordão dos seus programas era a plateia que gritava: Porrada! Porrada!

E já naquela época vivíamos reclamando daquela baixaria, daquele esforço sem fim para conseguir e manter audiência, se utilizando, para tanto, da desgraça humana.

O fenômeno Ratinho não era inédito. Antes dele foram muitos os que levaram as mazelas da sociedade para a TV ou para o rádio com o objetivo de conseguir audiência, em redes nacionais ou emissoras locais. Depois dele, a baixaria continua. Hoje, na TV brasileira, sem nenhuma dúvida, a maior representante do estilo “abutre midiático” é a apresentadora Sônia Abrão, que parece não ter nenhum senso de responsabilidade social e se presta a explorar de maneira sórdida os mais escabrosos fatos da vida cotidiana brasileira.

Todos “odeiam” a Sônia Abrão e seus asseclas, travestidos de profissionais respeitados e especialistas em desgraça da vida alheia, mas, como se diz popularmente, “tem muita gente que vê”. Eu mesmo, viciado inveterado em TV, que sempre trabalho com alguma ligada por perto, tenho sempre meus cinco minutos de Sônia durante a tarde. Ponho no canal, tento assistir, passam-se cinco minutos, não consigo, mudo de canal...

Agora o fenômeno do “tudo pela audiência” começa a contaminar de maneira perigosíssima a – atualmente – mais importante rede social no Brasil: o Facebook. Mais do que postar conteúdo que tenha alguma mensagem a transmitir ou que convide aqueles que o virem a algum tipo de reflexão ou descontração, as pessoas começaram a utilizar os recursos disponibilizados pelo Facebook para tentar alavancar a audiência de suas imagens. Não é incomum ver imagens que nos oferecem opções de gostar ou não gostar de uma coisa ou outra ilustradas por legendas que nos pedem para Curtir, Compartilhar ou Comentar.

Inobstante terem se revelado recursos bem interessantes para a realização de enquetes com usuários da rede, esses recursos transformaram-se, na prática, em um mecanismo de aferição da audiência e da pertinência da imagem e, por consequência, numa maneira de forçar as pessoas a distribuir o conteúdo, já que com a recém-implantada timeline do Facebook, qualquer das ações vai aparecer na sua “linha do tempo” e poderá atrair seus amigos.

Nenhum problema até aí, já que o único efeito dessas ações é, como se fosse pouco, a poluição ainda maior do “ambiente” virtual. O problema é, de fato, que algumas pessoas têm partido para a estratégia do “tudo por uma interação”, seja ela compartilhar, curtir ou comentar. Imagens absolutamente incompatíveis com a proposta de uma rede social como o Facebook têm invadido os nossos perfis. Corpos desfigurados por acidentes ou em tiroteios, pessoas em situações vexatórias ou fotos de determinadas doenças têm sido utilizados para provocar as pessoas a opinar, aprovar ou redistribuir tais conteúdos. Algumas, inclusive, são utilizadas fraudulosamente, como a foto de um bebê com um tumor na face, que foi apresentada como um câncer que estaria sendo tratado com a ajuda do próprio Facebook, que doaria entre R$ 0,05 e R$ 0,50 por cada vez que a imagem fosse compartilhada.

A foto, na verdade, era de uma site americano que falava sobre uma técnica de tratamento para o caso. Para descobrir a fraude foi muito simples: bastou digitar “baby face tumor” no Google Images e ela surgiu, servindo de link para o blog www.selfdevelopmentblog.com. Apenas um autor de uma das várias postagens da imagem no Facebook, que tem pouco mais de 300 amigos na rede, conseguiu mais de três mil compartilhamentos em apenas algumas horas, o que demonstra, em primeiro lugar, que esse tipo de imagem de fato tem o poder de fazer com que as pessoas sintam-se tocadas e estimuladas a ajudar, mesmo que seja apenas com a redistribuição para seus contatos, sem, no entanto, verificarem a veracidade da informação, seja com algum tipo de pesquisa, seja utilizando o bom senso, já que é difícil imaginar que uma empresa como o Facebook se proponha a doar dinheiro por qualquer tipo de compartilhamento de conteúdo, principalmente se esse conteúdo for ofensivo aos seus usuários.

De qualquer maneira, fica a dica a todos para que evitem redistribuir conteúdos sobre os quais não tenham certeza da origem ou, principalmente, dos benefícios para aqueles que os visualizarem. Somos todos responsáveis por manter nosso meio ambiente, seja real ou virtual, limpo e saudável. Se é tão difícil na realidade, tentemos a facilidade da virtualidade.
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