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domingo, janeiro 22, 2012

Tem que conectar



Algumas novas regras que não estão na legislação eleitoral entrarão em vigor nas próximas eleições municipais. Elas atingem partidos, candidatos a cargos majoritários e proporcionais, consultores, assessores, jornalistas e, principalmente, eleitores.

Das novas regras, a principal é a que estabelece que todos aqueles que queiram participar ativamente no processo eleitoral devem estar conectados. Obviamente que o mandamento é opcional para um desses grupos: o dos eleitores. Os demais, sem nenhuma escala de prioridades, devem estar absolutamente cientes da importância de estarem atentos a tudo que acontece nos espaços virtuais nos quais haja qualquer tipo de interação entre pessoas relacionada com o processo eleitoral.

Numa alusão à frase de Jesus (Mt 18:20), onde dois ou mais estiverem reunidos para discutir política, é preciso estar também. Os jornalistas para que possam colher ainda no nascedouro informações que tenham potencial de se transformar em notícias ou verificar como está se posicionando o público em relação à agenda proposta pela mídia; os consultores para que possam conhecer melhor o “target”, os opositores e até seus próprios consulentes, traçar suas estratégias direcionadas para este universo, reagir a movimentos próprios do meio e nele lançar pacotes de informação com o objetivo principal de fazer com que sejam disseminados, natural ou artificialmente, inicialmente no mundo virtual e, logo após, no mundo real; assessores devem estar em alerta permanente, pois será deles o papel crucial de manter seus assessorados “online” de maneira que possam reagir em tempo real da maneira mais produtiva possível ao fluxo de informações em constante movimentação, principalmente nas redes sociais mais populares.

Os eleitores, únicos com o status de participantes opcionais, nesse novo cenário, assumem definitivamente o papel de atores ativos de todo o processo e não mais de capítulos especiais (pesquisas, eventos e repercussão de notícias). Alguns passarão a se comportar de maneira crítica em relação a tudo o que lhes for apresentado, aceitando algumas informações de maneira natural, debatendo outras e combatendo as demais. Obviamente suas posições históricas no processo influenciarão – e muito – esse comportamento, mas algumas estratégias poderão fragilizar essas posições e, em alguns casos, até possibilitar a conversão de críticos sistemáticos em apoiadores incondicionais. Pode parecer difícil, mas não é.

Via de regra, os eleitores conectados deverão se dividir basicamente em cinco grupos: os apoiadores convictos de algum grupo político, alguns deles se posicionando como verdadeiros soldados da causa, dispostos a defender seus pontos de vista à exaustão; os simpatizantes de uma candidatura, que se comportarão muito mais como “torcedores”, vibrando nos melhores momentos e lamentando – ou criticando – nos momentos difíceis; os críticos sistemáticos serão contra tudo e contra todos, profetizando o caos político generalizado e a impossibilidade de soerguimento com o que se apresenta como solução para os problemas atuais; os descrentes se posicionarão como avessos à discussão e farão questão de demonstrar que não gostam de política e não acreditam nela como meio de transformação social, refutando qualquer tipo de abordagem; e, finalmente, os “consumidores” políticos se apresentarão como dispostos a serem conquistados por quem lhes demonstre boas propostas e a capacidade para coloca-las em prática, evidenciando, obviamente, para isso, provas de sua competência.

Alguns candidatos ainda imaginam que como não têm entre seu eleitorado tradicional parcela significativa de internautas não precisarão se preocupar muito com esse admirável mundo nebuloso. Pode ser este o mais grave engano de suas estratégias. Não podemos esquecer que há atualmente nas mais distantes localidades um computador ligado à internet, os celulares estão fazendo com que todos possam estar conectados o tempo todo em qualquer lugar, as escolas e empresas fornecem acesso ilimitado aos seus alunos e funcionários e os meios de massa multiplicam permanentemente os principais fatos que por vezes nem existem no mundo real, apenas nas redes sociais. Mas, sobretudo, é preciso lembrar que em terra onde quase ninguém tem internet, quem tem é formador de opinião natural. O ancião de antigamente vem cedendo lugar ao jovem nerd de hoje, que não apenas serve como fonte de informação para comunidades “desconectadas”, mas que também tem extremo poder de influência entre aqueles que dele dependem para consultas, pequenos serviços (e-mails, pagamento de contas, compras, acesso a serviços públicos etc.) e auxílio para sua própria inclusão digital.

Nesse contexto, até pelos recursos que despende, a inclusão da internet, com ênfase para as redes sociais, no projeto de campanha é obrigatória e, por suas próprias características, absolutamente viável.

Volto ao assunto...

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