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segunda-feira, março 26, 2012

As primeiras vítimas



Não são poucos, infelizmente, os paraibanos que hoje podem se declarar “vítimas” do Governo Ricardo Coutinho.

Não que o atual Governador tenha, necessariamente, os agredido moral ou até fisicamente. Já se vão longos anos desde que Ricardo, com toda a energia de recém-eleito Deputado Estadual pelo PT, chamava o seu companheiro, o Padre Luis Couto, de “Cabra Safado”.

Hoje, as vítimas são outras e as agressões são muito mais encobertas, embora algumas sejam até mais violentas do que um discurso agressivo, como o que proferiu contra a UEPB durante a posse dos professores do Estado, acusando a Universidade de possuir uma “Casta” de privilegiados que gasta milhões do Governo e não presta contas.

Além de agredir a UEPB, o Governador conseguiu, de uma vez só, chamar de incompetentes dois outros órgãos do Estado: o Tribunal de Contas e a Controladoria Geral. 

Esses, então, foram agredidos sem nem serem citados.


E o mais curioso é que nem o Governador e nem as dezenas de assessores que lotavam as primeiras cadeiras do auditório e o aplaudiam durante o discurso em que ele, pela primeira vez, de viva voz, sem recorrer a “testas-de-ferro”, mostrou suas reais intenções ao atacar a Autonomia da UEPB, estiveram presentes ao Seminário Técnico realizado pela Universidade na última sexta-feira, quando a Reitora e os Pró-Reitores, um a um, apresentaram detalhadamente as finanças de suas pastas e se colocaram à disposição de todos para quaisquer esclarecimentos.

Perderam uma grande chance de provar suas teorias...

Outros são vítimas menos importantes para o Estado, mas tão importantes, como pessoas, quanto Ricardo ou qualquer um dos que o apoiam. Os funcionários com mais de 20 anos que foram demitidos e agora não têm como retomar suas carreiras, as crianças que tiveram suas escolas fechadas e agora sofrem para se deslocar durante horas para estudar, os fiscais que foram chamados de chantagistas por cobrarem o cumprimento de uma Lei, os concursados que o Estado se esforça para não contratar, os pacientes que morreram por falta de atendimento e, finalmente, os paraibanos como o meu futuro colega, estudante de Arte e Mídia da UFCG, Altieres Estevão da Silva, de 24 anos, que foi assassinado na noite de ontem simplesmente porque a política de segurança tão prometida ao longo da campanha simplesmente não funciona. Não funciona.

Se Altieres é a vítima mais recente do desGoverno da Paraíba, as mais antigas são, com certeza, a Deputada Estadual Daniella Ribeiro e o seu irmão, o Deputado Federal e atualmente Ministro das Cidades Aguinaldo Ribeiro.

A família Ribeiro, uma das mais tradicionais da política paraibana, foi a primeira grande aquisição de Ricardo Coutinho quando de sua decisão de concorrer ao Governo do Estado.

Acreditaram firmemente no projeto e o defenderam com todo vigor.


Foi pelas mãos de Enivaldo, liderança maior, e da filha que se revela hoje sua grande sucessora, que Ricardo veio pela primeira vez como “futuro Governador” para Campina e percorreu os bairros da cidade sob a chancela de uma família que mesmo sem o controle administrativo da cidade há décadas ainda ocupa lugar de destaque no cenário político estadual e mantém decisiva influência nos resultados eleitorais da Rainha da Borborema, principalmente dos bairros mais tradicionais da cidade.

Foi ao lado de Enivaldo, Daniella e “Aguinaldinho” que Ricardo passou a ser visto com bons olhos pela primeira vez em Campina.

E foi a partir dessa aliança que o atual Ministro deixou sua vaga na Assembleia Legislativa por alguns meses para assumir, no dia 11 de dezembro de 2009, o cargo de Secretário de Ciência e Tecnologia da cidade de João Pessoa, onde Ricardo era Prefeito.

O principal projeto da Secretaria era denominado de “Cidade Digital” e foi desenvolvido pelo antecessor de Aguinaldo, Paulo Badaró de França, ainda no primeiro semestre de 2009, portanto vários meses antes da chegada de Aguinaldo à Secretaria.

Quando Aguinaldo chegou à Secretaria todas as negociações já estavam feitas. Licitações, contratações, pagamentos, tudo. O papel do então Secretário foi apenas de acompanhar os últimos detalhes da instalação e de fazer o lançamento, no dia 19 de março de 2010, pouco antes de se desincompatibilizar do cargo pelo fato de ser candidato nas eleições seguintes.

Ou seja, Aguinaldo, durante sua passagem pela Secretaria, que servia muito mais para torna-lo mais conhecido em João Pessoa, como sua família fazia com Ricardo em Campina, não foi responsável nem pela implantação do serviço e muito menos pelo seu mal funcionamento, que ocorreu logo em seguida ao lançamento

Seu pecado foi ter sua imagem em João Pessoa umbilicalmente ligada ao projeto, que jamais funcionou como prometido e que agora se transforma em um grande problema por causa das inegáveis irregularidades que contém.

O que tranquiliza a família Ribeiro e todos os que se orgulham de ter um paraibano em um importante Ministério Federal é que a própria reportagem que denunciou o caso, embora tivesse claro objetivo de atingi-lo, serviu, em si própria, de prova a seu favor, já que não conseguiu apresentar qualquer documento oficial no qual seu nome apareça. Apenas um vídeo da internet da festa de inauguração.

O atual Governador, que era Prefeito antes e depois de Aguinaldo, a exemplo do que vem fazendo em todas as reportagens nacionais recentes sobre aspectos negativos da administração pública paraibana, não se pronunciou.

Os gestores da Prefeitura, bem como o atual Prefeito, que não ocupavam os cargos na época, se esquivaram de dar entrevistas e o Secretário Estadual que se dispôs a falar botou a culpa pelo superfaturamento no sistema de Licitação, como se não fosse obrigatório para a Prefeitura, como licitante, zelar pelo interesse da população e verificar se os preços apresentados estavam de acordo com o que pratica o mercado.

No final das contas, com a simples análise da matéria e uma leitura rápida dos documentos disponibilizados por todas as partes, é fácil perceber quem praticou o ilícito e quem, apesar de apontado como suspeito, é, na verdade, mais uma vítima do Governo Ricardo, antes mesmo de Ricardo chegar ao Governo, o que não deixa de ser um paradoxo.

O que o Ministro provavelmente não irá esquecer tão cedo, também, é a postura de alguns defensores oficiais do Governo, que na ânsia de tirar das costas do atual Governador a responsabilidade de gestor à época do malfeito, alegam que o problema é entre o Ministro e a Mídia, sem sequer trazer à baila o nome do Secretário que realmente teve responsabilidade e tentando fazer a população entender que realmente o projeto teve problemas e que agora a “nova administração” os está corrigindo.

Nessa história, se Aguinaldo foi vítima antes mesmo da campanha começar, Daniella foi vítima já da estratégia de campanha, retirada da chapa majoritária e sem qualquer outro espaço garantido no grupo, mesmo havendo um compromisso público e notório, à undécima hora.

A diferença é que se Aguinaldo hoje deve lamentar muito aqueles poucos meses como Secretário da Capital, que agora lhe rendem tanta dor de cabeça, Daniella provavelmente sente-se extremamente aliviada de não estar sendo obrigada a fazer parte - se é que se submeteria a isso - do que aconteceu à Paraíba depois do “balão” que levou.

E se há males que vêm para o bem, que o Bem venha logo...

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