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segunda-feira, março 26, 2012

A Educação que atrapalha



Desde que assumiu o Governo da Paraíba, em 2011, Ricardo Coutinho vem colecionando insatisfações em todas as áreas.

Para algumas, é aceitável a justificativa de que para fazer uma omelete é preciso quebrar os ovos. É o caso da Cultura, onde o Secretário Chico César bateu o pé e afirmou que o Estado só investe seus recursos em eventos e artistas que efetivamente tenham relação com a cultura paraibana/nordestina e que festas que contratem estrelas sem reconhecido valor cultural devem banca-las com verbas de outros patrocinadores. Certíssimo. Vamos ver se neste ano de campanha eleitoral municipal o discurso sobrevive. Ou se sobrevive o secretário.

Noutras áreas, os motivos que levaram à tomada de medidas heterodoxas foi o interesse da população e a necessidade de que os cidadãos da Paraíba não sofressem qualquer tipo de desatenção causada por problemas entre o Estado e seus funcionários.

Assim ocorreu na Saúde, quando o Estado buscou a parceria com organizações privadas para suprir as carências da área provocadas pela falta de entendimento entre o Governo e segmentos do setor. O problema é que a Administração tentou transformar em permanente o que deveria ser emergencial e temporário, admitindo, com isso, a falta de competência para gerir seus mais importantes equipamentos de Saúde Pública. Agora a Justiça reconhece a arbitrariedade e o Governo terá que reassumir as funções para as quais o elegemos, sob pena de que tenhamos, outra vez, o caos vivido no início da atual administração.

Na área da Segurança, as promessas da campanha, de resolver a situação em poucos meses e de implementar na Paraíba uma política exemplar, transformaram-se em um imenso pesadelo. A escalada da violência aumentou e ultrapassou as fronteiras das comunidades sob risco social e das áreas urbanas. Hoje o paraibano vive com medo, não apenas de ser assaltado em plena luz do sol, mas, principalmente, de morrer a qualquer momento, em qualquer lugar do Estado, vitimado por uma política de segurança que definitivamente não mostrou a que veio e que não sofreu nenhum tipo de intervenção do Governo, fosse efetuando mudanças na estrutura inerte ou oferecendo-lhe as condições necessárias para que finalmente conseguisse fazer agora o que prometeu para mais de um ano atrás.

Com o FISCO o Governo travou – e ainda trava – uma batalha que demonstra claramente o estilo impositivo e monológico da atual administração. Mesmo com imensas perdas para os cofres do Estado, o Governo não cedeu às reivindicações da categoria e chegou a fazer profundas mudanças em sua estrutura administrativa apenas para enfraquecer o setor e implementar políticas de controle que retiram dos Agentes Fiscais conquistas históricas e comprovadamente benéficas para as finanças estaduais. Apenas para se vingar de uma categoria que não se dobrou às suas vontades, o Governo tomou medidas que prejudicariam todos os paraibanos, mas que, em boa hora, foram revogadas pela Assembleia Legislativa, que corajosamente desfez a arbitrariedade do poder executivo.

Na Agricultura, outra área na qual o então candidato apresentava-se como redentor, a Paraíba continua se arrastando. Enquanto os Estados vizinhos implementam programas e políticas de fortalecimento do agronegócio em todas as suas esferas, o nosso Governo até agora revela-se pior do que as últimas administrações e sequer dá prosseguimento a políticas reconhecidamente vitoriosas implementadas por Governos do passado.

Moradia era outra bandeira de campanha do então governador. Baseado em uma administração muito bem sucedida nessa área em João Pessoa, cujo crédito, na verdade, pertence ao atual Prefeito, brilhante urbanista, Ricardo Coutinho vendeu para muito breve uma Paraíba cheia de casas populares, que dariam fim às favelas e taperas que continuam se espalhando por todo lado.

No quesito emprego, um ponto que poderia ser considerado positivo. Embora o Governador tenha sido desmentido recentemente pela Superintendente da CINEP, que afirmou em programa de rádio que apenas parte das 87 empresas por ele anunciadas eram novas e a maioria, em verdade, eram expansões, o Governo tem conseguido oferecer vantagens competitivas para ampliar a oferta de emprego no Estado, mas é preciso analisar a qualidade desse emprego.

Os dois call-centers que estão se instalando em Campina e João Pessoa, por exemplo, fazem parte de um setor que ocupa lugar de destaque entre os piores lugares para se trabalhar no mundo. Nas indústrias que se anuncia, observa-se a necessidade de mão de obra pouco qualificada. Na maioria das vezes, nem ensino técnico é necessário. Basta saber ler e escrever para trabalhar e isso, definitivamente, não é bom para o Estado, num momento em que o Governo Federal aposta na Ciência e Tecnologia como caminho para tentar alcançar asiáticos e indianos, que há muito tempo sacaram que indústria de base ou com mão de obra pouco qualificada não traz avanços para povo nenhum.

A Educação termina sendo, assim, o grande tema do atual Governo.

A mentalidade adotada parece ser a ditada pela teoria econômica ultrapassada, onde é muito mais barato ensinar o básico e mandar o sujeito logo para o mercado do que mantê-lo agregado ao sistema de ensino por mais tempo e construir uma sociedade mais desenvolvida intelectualmente e, principalmente, politicamente mais crítica.

Pelo jeito, a estratégia atual é fazer apenas uma discreta atualização no modelo coronelista arcaico, propiciando o surgimento de uma economia baseada em uma oferta de empregos de baixa qualidade, que atenda toda a demanda de uma grande massa de trabalhadores limitados do ponto de vista intelectual e que, apesar de economicamente ativa, seja politicamente passiva e dependente indireta do Estado, que a mantém empregada através das concessões feitas aos seus empregadores, que, por sua vez, graças à margem de lucros ocasionada por essas concessões, consegue viabilizar eleitoralmente o esquema que lhe oferece as benesses que reivindica.

É, na verdade, uma grande roda viva.

O Governo oferece vantagens, a empresa se instala ou se mantém no Estado e contrata seus cidadãos mal capacitados, pagando salários baixos e oferecendo poucas condições de trabalho e progredimento. O lucro gerado por essa operação banca o projeto de poder e mantém o Governo no controle do Estado, para que ele possa continuar oferecendo as vantagens.

Todos ganham, menos o Povo, que se vê condenado a uma realidade surreal, que o faz sair da miséria mas não lhe permite alcançar patamares mais altos de qualidade de vida e, principalmente, desenvolver em si mesmo, através da Educação, as ferramentas necessárias para elevar-se e fazer progredir a sociedade na qual vive.

E assim perdemos gerações...

Nessa nova proposta de realidade, o ensino superior, com ênfase na pesquisa, no estudo das questões sociais e no desenvolvimento de modelos de economia baseados em ciência e tecnologia de ponta não combina com o estilo “novo-coronelista” para o qual caminhamos. Sendo assim, o ensino superior de qualidade, com foco na formação de seres pensantes, críticos e naturalmente desafiadores do status quo, e, principalmente, os desdobramentos sociais e culturais desse tipo de política educacional, não interessam. Muito pelo contrário, atrapalham.

E se é para atrapalhar, para que existir?

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