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sexta-feira, outubro 07, 2011

As peles da Arezzo e os banheiros do Bar do Cuscuz


Na última quinta-feira tive o prazer de assistir às exposições que fizeram parte da mesa denominada “O papel social da Propaganda”, que compôs a programação da I Semana DEMOCOM, promovida pelos cursos de Comunicação Social da UEPB e da UFCG, com a participação das professoras Adriana Rodrigues e Raija Almeida e do premiado publicitário campinense Danylo Almeida.

Foram apresentados alguns cases sobre como a publicidade pode ou não exercer um papel social e como deve se dar a relação entre o consumidor – não apenas do produto ou serviço, mas também da mensagem publicitária – e o anunciante, de maneira que se estabeleça um diálogo que possibilite a emissão e recepção de uma mensagem o mais próxima possível da realidade, sem fazer o produto parecer o que não é e, principalmente, sem levar o consumidor a imaginar que o consumo do produto ou serviço lhe trará benefícios que efetivamente não existem. Às vezes, muito pelo contrário.

Destaco, entre as apresentações, o caso da Arezzo, por Danylo, que eu já havia analisado ainda durante a ocorrência do fenômeno reativo através das mídias sociais e que teve um desfecho completamente inesperado para quem busca entender a nova realidade da comunicação, que inclui o consumidor como ferramenta de disseminação do conceito e propicia o feedback instantâneo e permanente da mensagem, através da participação dos usuários das redes sociais, independente do produto estar ou não nelas inserido.

Alguns meses após o “pelemaniagate”, a Arezzo divulgou, orgulhosa, um aumento de 40% em seu faturamento, que, aliado à constatação de que o número de seguidores de sua página no Facebook havia duplicado logo após a polêmica, levou algumas pessoas a interpretar que o episódio foi positivo para a empresa.

Não concordo.

A marca foi arranhada SIM. A Arezzo passou a ser interpretada como uma empresa irresponsável socialmente SIM. As consumidoras tiveram uma má impressão e algumas, possivelmente, passaram a evitar comprar seus produtos SIM.

Mas...

É preciso entender uma coisa a respeito dessas manifestações midiáticas. Ao contrário desses concursos onde é preciso enviar o código de barras para concorrer aos prêmios, não é necessário ser cliente para criticar. Na maioria das vezes – e naquele caso da Arezzo essa é uma realidade inegável – as críticas mais ferrenhas vêm justamente de pessoas que já não consomem o produto de qualquer maneira, por vários motivos, e que encontram na oportunidade o meio para se expressar contra aqueles que o consomem e, principalmente, que o defendem, pois vivemos numa época em que o que usamos, mais do que nunca, define quem nós somos. E se não usamos, de alguma maneira, isso nos torna ideologicamente contrários aos seus usuários.

Foi possível ver claramente o viés da defesa dos direitos dos animais perpassar discussões mais amplas, como a defesa do vegetarianismo e o combate à indústria da moda.

A pergunta é: isso atinge a consumidora de uma marca de calçados, bolsas e acessórios como a Arezzo?

É aí que a divulgação do lucro recorde e o aumento dos seguidores responde por mim: NÃO!

Seria hipocrisia deixar de consumir produtos Arezzo baseando-se no argumento de que animais foram mortos para fabricá-los quando a maioria das clientes busca na marca, justamente, a qualidade e durabilidade dos produtos em COURO.

Concordaram, em sua maioria, com a denúncia referente às peles por se tratar de animais exóticos, que normalmente não são abatidos para o consumo de sua carne. Mas quanto a abrir mão de produtos com as qualidades que, infelizmente, só o couro proporciona, aí são outros quinhentos.

Mas o que a Arezzo tem a ver com o Bar do Cuscuz?

Esta semana a colega jornalista Oziella Inocêncio publicou em sua coluna do Paraíba Online texto sob o título de “O desrespeitoso Bar do Cuscuz”, onde critica de maneira veemente a iniciativa do estabelecimento de decorar seus banheiros com adesivos onde aparecem frases sexistas.

Oziella declara no texto não ser frequentadora do local, mas foi informada por frequentadores que se declararam surpresos e decepcionados com a decoração dos já citados recintos privativos.

A partir daí, do jeito que Campina ADORA fazer, criou-se a polêmica!

Usuários campinenses de redes sociais passaram a usar seus perfis para declarar seu apoio ou repúdio ao bar, que passou a repercutir o caso em seu perfil do twitter, retuitando todas as opiniões, contra ou a favor, numa atitude de alegada democracia e liberdade de expressão.

Voltemos à Arezzo.

O que fez a marca de produtos femininos no momento em que viu a confusão instaurada?

Emitiu nota onde defendia a legalidade do que havia feito, pois que para a produção dos produtos usou peles de animais criados em cativeiro, com as devidas licenças oficiais e abatidos sob as mais criteriosas normas estabelecidas, o que, obviamente, não diminuía em absolutamente nada a ira dos que a criticavam. Ainda na nota, a Arezzo divulgou que todas as peças da coleção que utilizavam pele natural seriam imediatamente recolhidas das lojas, restando apenas aquelas de pele sintética.

Disse, fez, assumiu a falha, submeteu-se à crítica, absorveu os danos, minimizou o prejuízo, encerrou o caso!

Voltemos ao Bar do Cuscuz...

Antes de mais nada, a frase citada por Oziella pode ser considerada criminosa, pois possui conteúdo extremamente misógino e chauvinista. Só isso já seria o bastante para que fosse prontamente retirada pela direção do estabelecimento, que, na realidade, deveria era ter tido mais cuidado em sua análise antes mesmo de sua exposição.

Não tendo feito isso, peca o Bar do Cuscuz por tentar instaurar uma espécie de tribunal virtual no qual seus clientes, ou não, o defendem ou atacam. Com essa postura a única coisa que consegue é incitar a desinteligência entre pessoas que, em sua grande parte, encontram-se regularmente justamente em suas instalações, perigosamente sob efeito de álcool e com os ânimos por vezes acirrados, pois que vão ao bar justamente para relaxar e esquecer dos problemas da vida cotidiana.

Busca, pelo que entendi, estimular o buzz, como se entendesse que de alguma maneira a “torcida” dos machistas vai mais uma vez se sobrepor às mulheres que entendam que estejam sendo desrespeitadas justamente pelo fato de dessa torcida fazerem parte também mulheres que não se consideram atingidas pela frase, talvez até por se identificarem com ela.

Talvez entenda o Bar do Cuscuz que seu público feminino - e masculino, por que não - é formado majoritariamente por pessoas que não se importam - e até concordam - com esse tipo de postura.

Da mesma forma que no caso da Arezzo não valia a pena estender a contenda, acredito que também nesse caso é uma besteira deixar as pedras rolarem e, pior, contribuir para que isso aconteça.

Não entendo porque simplesmente não foi retirado o adesivo (quem sabe substituído por versos que enaltecessem a beleza e a magia do ser feminino) e publicado um pedido formal de desculpas, quem sabe até com uma promoção especial para as frequentadoras do local.

Isso sim seria reverter o quadro. Não ficar esticando a corda para ver quem se lasca quando ela torar.

É claro que daqui a algum tempo este caso será mais uma das histórias folclóricas de Campina Grande, presente em algum tuitaço do estilo #campinadasantigas.

Pode não trazer nenhum prejuízo, mas pode trazer muitos e de diversas maneiras, como, por exemplo, na avaliação do lugar por veículos especializados da área de turismo e gastronomia; quando do fechamento de alguma parceria ou patrocínio de alguma empresa que rejeite esse tipo de postura (ou tenha uma mulher com poder de decisão no departamento de marketing); ou na pesquisa prévia que muitos turistas fazem na internet sobre os lugares que irão frequentar em sua próxima viagem.

Talvez nas confraternizações do final do ano os primeiros efeitos já surjam, pois são sempre as mulheres as encarregadas da organização deste tipo de evento. Várias empresas têm predominância feminina em seus quadros e quando não têm as esposas dos funcionários são muito ouvidas para a escolha do local onde, por vezes, terão o seu melhor momento social em todo o ano.

No futuro atitudes como essa serão cada vez mais rejeitadas e combatidas. O ganho de mídia atual pode se transformar em ônus lá na frente, quando alguma iniciativa midiática social vier a atingir as finanças da empresa, como um #diasemmulher para os frequentadores do @BardoCuscuz ou um #diadamulher em um de seus poucos concorrentes, o que, obviamente, esvaziaria o recinto também de homens, pois que embora ainda não as respeitemos como deveríamos, não podemos negar de maneira alguma a dependência que temos delas.

E para não dizer que critiquei sem oferecer sugestões de como resolver o problema, seguem algumas frases interessantes sobre mulheres. Recortem, colem, imprimam, apliquem e pronto!


Obs.: como o Bar do Cuscuz provavelmente não vai acatar a sugestão, ficam as dicas (#diadamulher, promoções para as mulheres e banheiro masculino decorado em homenagem às mulheres, para os concorrentes. #oportunidade!).


"A mulher foi feita da costela do homem, não dos pés para ser pisada, nem da cabeça para ser superior, mas sim do lado para ser igual, debaixo do braço para ser protegida e do lado do coração para ser amada."
(Maomé)

"Uma mulher perdoará um homem por tentar seduzi-la, mas não o homem que perde essa oportunidade quando ela lhe é oferecida"
(Charles Talleyrand-Périgord)

"Há de tudo um pouco nas lágrimas das mulheres."
(Henry François Becque)

"As mulheres constituem a metade mais bela do mundo."
(Jean-Jacques Rousseau)

"Não se nasce mulher: torna-se."
(Simone de Beauvoir)

"Amar apenas as belas mulheres e suportar os maus livros são sinais de decadência." 
(Joseph Joubert)

"O pudor dá às mulheres um encanto irresistível." 
(Anatole France)

"Pode-se amar até a loucura uma mulher feia, por encantos que superam os encantos da beleza."
 Jan Paulhan

"A graça é um reflexo do amor sobre um fundo de pureza. A pureza é a própria mulher."
 (Jules Michelet)

"Pode-se graduar a civilização de um povo pela atenção, decência e consideração com que as mulheres são educadas, tratadas e protegidas."
(Marquês de Maricá)

"Quando uma mulher estiver falando com você, escute o que ela diz com seus olhos." 
(Victor Hugo)

"O que fizeste para a mulher, isso ela pode esquecer, mas nunca esquecerá aquilo que para ela não fizeste."
André Maurois

"O caminho da mulher honesta está juncado de flores; mas estas crescem atrás dos seus passos e não na frente."
(John Ruskin)

"Para mim, a mulher não é para exibir, é para dar atenção e para amar."
(Ayrton Senna)

"Para a mulher, os romances que faz são mais interessantes que os romances que lê."
 (Théophile Gautier)

"Ensinam-se os homens a pedir desculpas por suas fraquezas e as mulheres, a pedir desculpas por suas forças." 
(Lois Wise, americana, publicitária)

"Uma mulher que chora é poderosa, uma mulher que chora bem e com beleza é onipotente." 
(Montegazza)

"Há sempre, nas mais sinceras confissões das mulheres, um cantinho de silêncio." 
(Paul Bourget)

"A mulher é a rainha do mundo e escrava de um desejo." 
(Honoré de Balzac)



Um comentário:

Diego disse...

Concordo em gênero, numero e grau...!