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domingo, janeiro 29, 2012

Eleições 2012: o fim do "monólogo"


A partir de hoje vou postar aqui no blog alguns textos comentando as principais estratégias que podem contribuir com candidatos a cargos majoritários e proporcionais, e seus assessores, nas eleições municipais deste ano. São temas que se tornam ainda mais relevantes observando-se o crescimento da importância das redes sociais no contexto do processo eleitoral.

O primeiro aspecto que considero importante observar é que a partir destas eleições acaba-se definitivamente a campanha em que apenas o candidato se expressa, como em um monólogo, sem que os eleitores tenham direito a vez ou voz. Não falo de uma reunião ou comício onde alguém tenha a chance de falar e opinar ou de um candidato que seja democrático e aceite sugestões, no decorrer da campanha, de quem as queira dar. Falo da campanha como um projeto de comunicação, no qual, a partir de agora, será obrigatório prever, a cada passo, a participação do público que será atingido pela mensagem.

A palavra chave da campanha, neste aspecto, é DIÁLOGO. Ele tem que estar presente desde o planejamento até o último momento do processo. E por saber que ele estará presente, queira ou não queira o candidato, é que torna-se obrigatório estar preparado para conviver com ele.

Antes de mais nada, será preciso ouvir o eleitorado ainda antes de executar o projeto, para entender não apenas o que as pessoas querem de você, mas, também, baseado no que elas sabem – ou não – a seu respeito, o que elas acham que você seja capaz de realizar.

Depois de saber o que as pessoas esperam ou de ter a comum decepção de descobrir que elas não lhe conhecem e à sua história como você achava que conheciam, é preciso estar atento, ao longo de toda a campanha, ao que elas andam comentando a seu respeito e buscar por todos os meios participar dessa discussão, respondendo todas as perguntas, comentários, críticas, elogios e até ataques e insultos, com o cuidado, obviamente, de dar importância a quem não tem e de não descer aos baixos níveis dos menos civilizados.

Se antes para saber o que as pessoas estavam achando de você era preciso a ajuda dos fofoqueiros e alcaguetes que sempre dão as caras nos bastidores da política ou, pelo lado profissional, de pesquisas e outros instrumentos de auscultação da opinião pública, hoje é preciso, sobretudo, um permanente e minucioso trabalho de monitoramento dos meios sociais virtuais, pois está plenamente comprovado que da mesma maneira que a "vida real" repercute nas mídias sociais, hoje em dia, cada vez mais, as redes sociais agendam o debate sobre os mais diversos assuntos no universo material.

Para que seja feito esse acompanhamento já existem ferramentas simples e extremamente úteis de monitoramento e metrificação da disseminação de conteúdos na internet capazes não só de acompanhar o “buzz” a respeito de determinada marca ou pessoa, mas também de prever a disseminação de algum tipo de conteúdo de seu interesse.

Isso mesmo. PREVER.

Mas como?

Imagine que alguma pessoa que trabalhou com você no passado posta na internet uma imagem ou texto que desminta a imagem que você está tentando construir na campanha (independente de ser verdade ou não). Essa informação já está na rede, mas enquanto as pessoas não perceberem-na e começarem a disseminá-la ela ainda não causou dano algum.

O número de amigos ou seguidores do autor, a rede utilizada, o dia e horário e até o serviço de hospedagem onde a foto, vídeo ou texto está alojado na rede podem facilitar o estancamento de uma crise potencial, desde que haja rapidez na identificação do evento, sensibilidade para perceber sua real importância, competência para estancá-lo ou habilidade para reverte-lo.

Também há os casos em que o conteúdo não é sobre você, ainda. Como quando falam de um assunto que você teme que, com o andamento da discussão, vá terminar apontando para algum fato que lhe envolva. Antes mesmo do seu nome ser citado já é possível redirecionar a discussão e afastá-la de você, utilizando-se das mais diversas estratégias. Mais uma vez, rapidez, sensibilidade, competência e habilidade.

Isso não é só quando as coisas são contra você. Quando são a favor também é possível maximizar os resultados e incentivar a proliferação. E há, ainda, os casos onde o conteúdo é sobre algum adversário. Também nesses casos é possível interferir a seu favor.

O que é preciso entender, inicialmente, é que a sua imagem nessa campanha não será mais construída apenas por você. Você deverá, obrigatoriamente, acompanhar essa construção coletiva e poderá, sempre que indicado, tentar direcionar o fluxo a seu favor.

E para aqueles que pensam que ainda será possível fazer uma campanha off-line, sem se envolver nas mídias sociais ou sem dar importância para o que nelas acontecer, nem preciso lembrar que quem escolhe o que será veiculado na internet não é você e que a maioria dos grandes fenômenos virais ou meméticos nos últimos anos não foram gerados pelos seus atores principais e, mais importante, sequer aconteceram originalmente de alguma maneira ligados aos meios sociais.

Para lembrar o último e um dos maiores fenômenos de todos os tempos, a indefectível Luíza Rabello virou celebridade a partir de um comercial do qual ela NÃO participou e que fazia parte de uma campanha que NÃO previa qualquer tipo de veiculação na internet.

Concluindo, as redes sociais não são uma opção nesta campanha. Elas são absolutamente obrigatórias. E, partindo do pressuposto que você não tem nenhum controle sobre elas, se você não previr como vai se comportar em relação a elas algum moleque que nem vota poderá tirá-lo com extrema facilidade da disputa. Ou transformá-lo em um fenômeno eleitoral. Depende, também, de você.

Um comentário:

Helder Britto Teixeira disse...

Sempre concordo com as colocações de Emerson, mas faço um adendo. Para os novos candidatos ou para os candidatos que não conseguem uma desenvoltura nas letras, o grande palco ainda é o Rádio. Aproveitem o radio para atingir os alvos desgarrados, os sem-midias...