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quarta-feira, fevereiro 08, 2012

Polícia? Ora, a polícia...



Sei que a exemplo do que aconteceu quando da divulgação do tumor cancerígeno encontrado na garganta do ex-presidente Lula – causado, segundo os médicos, na maioria dos casos, pelo abuso de álcool e fumo – alguns vão se arvorar em dizer que este não é o momento para tratar desse assunto, que devemos respeitar a dor da família, que é “deselegante”, mas a morte do jovem funcionário público Bruno Ernesto na noite de ontem em João Pessoa é prova inequívoca de um fenômeno que há muito tempo ganha corpo e tem se agudizado cada vez mais nos últimos dias na Paraíba: a violência saiu do gueto.

Antes a gente tinha o costume de classificar determinadas áreas, bairros ou zonas da cidade de acordo com o grau de violência institucionalizada que todo mundo sabia que existia – inclusive a polícia – mas que ninguém fazia nada – principalmente a polícia – e aquela situação terminava se transformando em uma espécie de traço cultural do local.

Acontece com as favelas dominadas pelo tráfico nas grandes metrópoles brasileiras, com alguns bairros de população predominantemente negra ou hispânica nos Estados Unidos, com subúrbios habitados por imigrantes de origem africana na França ou com o Alto do Mateus, em João Pessoa, e o bairro de José Pinheiro, em Campina Grande. Este último chegou a ser apontado como potencial sede de uma espécie de UPP (Unidade de Polícia Pacificadora) nos programas do guia eleitoral de José Maranhão em 2010.

Eu mesmo fui criado em uma rua conhecida carinhosamente como “Rua do Fogo”, onde a gente combinava os compromissos dos domingos à tarde para “antes ou depois briga” entre os jogadores de pelada que sempre se encontravam para tomar umas na “esquina de seu Vavá” depois dos rachas que aconteciam nas dezenas de campos existentes naquela região.

Só que agora não é só a Rua do Fogo (essa deixou de ser há muito tempo), o beco da pavoa, a rua do califon ou outros “points” de população predominantemente pobre, sem acesso à educação, à saúde e ao emprego que a gente pode rotular de “carregados”.

Ruas e praças de todos os bairros, independente da localização ou do perfil social de seus moradores e transeuntes, são hoje territórios de ninguém. Pior, são territórios dos bandidos, que não se preocupam mais nem em se esconder nas sombras da noite ou no silêncio da madrugada. 

Atacam a qualquer hora, sem nenhuma cerimônia.

Mudaram, na verdade, traços culturais de todo o resto da população. Essa semana ouvi que a moda agora entre quem anda a pé e de ônibus é ter um celular bom, sempre escondido, e um “péba”, só pra entregar pro ladrão. E o ruim tem que estar ligado e com chip, porque os ladrões também já conhecem o golpe.

Tá vendo onde a gente chegou?

A inteligência que falta em quem deveria ser responsável por nos proteger está se transformando em arranjos sociais para absorver uma realidade que todos já estamos tomando como normal, absoluta e inevitável.

Antes a gente pensava que não ia acontecer com a gente, agora a gente fica torcendo para que não seja hoje.

Lembro de uma piada em que um Secretário de Segurança Pública anunciava que os índices de violência estavam mais baixos do que nunca. Um repórter perguntou de onde ele havia tirado aquele dado e ele respondeu, com orgulho: - Ora, meu filho, no tempo de Caim e Abel o índice de morte violenta entre os jovens era de 50%!

O governo está fazendo a parte dele, afinal a parte do governo há décadas é dizer que “vem envidando todos os esforços para coibir o avanço das forças obscuras da marginalidade, braços armados do tráfico de drogas e que os índices de criminalidade estão diminuindo (sempre ressaltam, entre vários, o único que não piorou)”. Pedem ajuda da população, no sentido de combater a criminalidade denunciando crimes e suspeitos (abdicaram há muito tempo da investigação preventiva) e sempre tentam esconder que a maioria absoluta de seus casos resolvidos só foi possível graças justamente ao disque-denúncia e aos tradicionais alcaguetes do mundo do crime.

Os profissionais das polícias civil e militar são mais uma categoria esquecida e mal paga.

Hoje fez um ano, um mês e oito dias que o atual governo assumiu o Estado, depois de haver apresentado como uma de suas principais competências, na campanha, a capacidade de conseguir diminuir com rapidez e eficiência a criminalidade que já assolava de maneira preocupante nossas ruas naquele momento.

São 404 dias de assaltos, roubos, furtos, sequestros, espancamentos, explosões. De INCOMPETÊNCIA!

Tal qual a presidente Dilma sentiu na pele há alguns dias a morte de um assessor direto graças à falta de atendimento em um hospital, o governador viu ser friamente assassinado ontem alguém com o qual provavelmente devia ter algum tipo de relação pessoal e de quem devia receber o maior carinho, atenção e até, quem sabe, orgulho de ter nele votado e lhe ajudado a se eleger.

Bruno não está mais aqui.

Ricardo pode ter a certeza – já que parece não ter em relação a outros tantos paraibanos que declaram o seu arrependimento de ter votado nele – de que pelo menos um voto ele perdeu nas próximas eleições.

A consternação só aumenta ao perceber o constrangimento de amigos e familiares diante da imprensa, sem nem sequer poder levantar a voz, como tantas mães, pais e filhos têm feito nos últimos meses, contra o estado de absoluta inaptidão que tomou de assalto o setor de segurança pública da Paraíba.

Não lhes adianta mais pedir Justiça.

Para eles, o mundo não é justo. São apenas mais uma família de paraibanos arrependidos.


Um comentário:

Rosa disse...

Excelente esse post! Só Deus sabe o sofrimento que os familiares desse garoto estão passando.
Com relação a volencia na Paraiba, essa não para de crescer e ultimamente de forma assustadora. Diria até sem exagero, que atualmente estamos pior do que o Rio de Janeiro. As autoridades constituidas hoje na Paraiba estão ainda ofuscado pelo poder político que hoje estão exercendo e se esquecem da população que os elegeu. Penso que tudo tem solução. Acho que o governador deveria recorrer ao exercito, taç qual o exemplo do Rio de Janeiro, para coibir que a violencia aumente mais. Se não for tomada uma atitude drástica, logo logo a Paraiba será uma das primeiras no ranking da violencia nacional.
Só tenho a lamentar a morte deste rapaz na condição de mãe que sou emostrar minha solidariedade a todas as mães que perderam seus ficlhos vitimados pela violencia.