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quarta-feira, agosto 03, 2011

Paraíba: a criminalidade segmentada


Ricardo Coutinho: crimes seriam "inevitáveis".
Na última segunda-feira, no programa Conexão Arapuan, respondendo sobre a criminalidade na Paraíba, o governador Ricardo Coutinho defendeu o setor de segurança pública de seu governo alegando que grande parte dos crimes ocorridos na Paraíba nesses últimos meses são premeditados.

Segundo o governador, se o cabra decide que vai matar alguém a polícia não tem como impedir.

Concordo. Em parte!

Na minha opinião, alguns aspectos têm feito aumentar a criminalidade no submundo das drogas, os chamados "acertos de contas".

O primeiro, por incrível que pareça, acredito eu, é a crise econômica. Isso mesmo. Ou você está pensando que o índice de inadimplência que atinge todos os setores da economia não atinge também o comércio de drogas? O problema é que traficante não tem como botar devedor no SPC, então basta analisar as notícias com atenção que veremos que no mesmo jornal onde se fala que tantas pessoas foram mortas em comunidades carentes, possivelmente por acertos de contas com traficantes, fala-se também de recordes na emissão de cheques sem fundos, inadimplência no cartão de crédito, arrocho de uma maneira geral. Uma coisa tem a ver diretamente com a outra, sim senhor.

Longe dos olhos: cena cada vez mais comum em
comunidades carentes, mas absolutamente inaceitável
em zonas comerciais e bairros de classe média e alta.
O segundo, e é esse que tem a ver com a entrevista do governador, é que, não é segredo para ninguém, a polícia não está muito interessada em correr atrás de assassino de bandido, drogado e/ou pobre. Morreu? Beleza! Quem matou é visto, inclusive, por alguns policiais e, pior, pessoas da imprensa, como "colaborador" da polícia, fazendo o que muitos gostariam de fazer mas não podem, ou, pelo menos, "não podem muito". Assim, não apenas o assassino se sente mais à vontade para matar, sabendo que não será caçado com tanto empenho, quanto a comunidade termina compactuando com a criminalidade, por medo do assassino ou por ver nisso uma maneira "educativa" de convencer suas crianças e jovens a não entrar nesse mundo, incentivando não o medo dos efeitos das drogas, mas, isto sim, o medo do traficante.

Observemos o empenho da polícia e a atenção da mídia na caça a criminosos que atingem pessoas de classes mais altas ou, pelo menos, que não tenham qualquer indício de envolvimento com a criminalidade. Se um bandido ataca uma "pessoa de bem", total empenho, mas o que faz aquele(a) pobre viciado(a) inadimplente não ser uma pessoa de bem? A doença do vício?

No final das contas, a criminalidade tem "resolvido" dois problemas de uma vez só.

Num primeiro momento, elimina viciados pobres que não têm como escapar das drogas pelos seus próprios meios e nem têm acesso a nenhum programa governamental de atendimento e tratamento de viciados em drogas, já que esse, efetivamente, não existe. Ou seja, a criminalidade termina servindo ao setor de saúde pública e assistência social, que são as reais áreas do governo por eles - os viciados - responsável.

Num segundo momento, o alto índice de "acertos de contas" por dívidas transforma traficantes, que seriam beneficiados com leis cada vez mais brandas, em assassinos, estes sim bem mais facilmente atingíveis pela legislação criminal, mas, a partir do crime, indivíduos com infinitamente menos chances de recuperação social e moral.

Para a polícia e grande parte da opinião pública, apenas
mais um viciado. Para o pai, tudo.
Talvez, nos bastidores do governo, ainda existam pessoas que pensam que o negócio é deixar os criminosos se matarem entre si, enquanto a polícia se concentra no combate aos crimes que atingem "inocentes" de verdade.

O problema é que essa mentalidade atinge diretamente não apenas centenas de famílias - mães, pais, esposas, maridos, filhos - que sofrem a perda permanente de entes queridos que deveriam ser assistidos e não esquecidos.

Atinge também o governo em sua imagem junto à população, pois os números da criminalidade não distinguem as vítimas.

São todos, antes de mais nada, paraibanos.


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