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segunda-feira, agosto 29, 2011

O Maravilhoso País do "Apesar"


O Brasil é o país do "apesar".

Apesar...

...da educação pública de péssima qualidade...

...do sistema de saúde caótico...

...dos altos impostos...

...da corrupção generalizada...

...da violência incontrolável...

...O NOSSO POVO É FELIZ!

Será mesmo?

Apesar de termos plena consciência do baixíssimo nível ideológico de nossa classe política, demonstrado, inclusive, pelos incessantes escândalos que ocupam permanentemente espaços significativos em todos os meios de comunicação e expressão, independente do grupo político ao qual estejam submetidos (e TODOS estão submetidos a algum grupo!) continuamos conduzindo corruptos, incompetentes, fisiologistas, criminosos e portadores de toda sorte de falhas de caráter e sociopatias a todas as esferas do poder público legislativo e executivo.

Chegamos ao cúmulo de eleger para o cargo de maior importância política e administrativa do Brasil uma pessoa que participou, permitiu ou omitiu-se diante de graves episódios de, no mínimo, falta de ética e que, testemunhamos, sofreu profundas modificações estéticas apenas para adaptar-se ao "layout" mercadológico estabelecido. Votamos não no conteúdo mas na imagem de alguém cuja credibilidade foi adquirida por procuração, e, pior, emitida pelo chefe do governo que mais escândalos e casos de corrupção nos altos escalões teve na história do país.

Acostumamo-nos a esperar com impressionante naturalidade durante anos, décadas até, por uma justiça que se permitiu chegar ao limite da inviabilidade operacional, formada, em sua maioria, por julgadores que se acham superiores ao povo do qual fazem parte e que, como seres elevados que se consideram, negam-se a trabalhar como os demais reles mortais, ao mesmo tempo em que fazem questão de receber muito mais do que a grande maioria da população.

Nossa saúde está entregue a uma horda de mercenários. O médico por vocação, humanista, dedicado e desprendido está em extinção. Sua classe está sendo dizimada por seres frios, calculistas, ambiciosos e egocêntricos. O paciente nunca precisou ser tão paciente. Chegamos à época em que a falta de atendimento, o mal tratamento, a desatenção e a falta de respeito com o usuário do sistema de saúde começam a figurar nas estatísticas de mortalidade. Quem devia cuidar da vida ajuda a levar à morte.

Nossos estudantes são vítimas de um sistema educacional assumidamente incompetente, que vem delegando cada vez mais a tarefa basilar de formar cidadãos a grandes grupos educacionais particulares, que agora dominam o “mercado” desde a instrução básica até a formação superior. A escola pública, antes festejada como base da cidadania nacional, agora é relegada à condição de rebotalho da falta de cultura brasileira. Estrutura insalubre e mal equipada, professores mal formados, mal pagos, desmotivados e, consequentemente, alunos incompetentes, incapazes e alienados.

A segurança brasileira é uma piada. Fronteiras abandonadas, entregues ao tráfico de drogas e de armas e ao livre trânsito de mercadorias roubadas e criminosos impunes. Polícias federais largadas à própria sorte, sem efetivo, sem tecnologia e sem autonomia. Polícias estaduais sucateadas, dominadas pelo poder econômico da criminalidade, reféns de máfias, cartéis e gangues formadas no seio de um sistema penitenciário desumano, que, ao invés de corrigir, desajusta. Quem governa o Brasil é a droga.

Para onde olhamos, nos decepcionamos. Moradia, transporte, arte, cultura, lazer, esporte, ecologia, direitos humanos... Tudo o que depende da ação do Estado encontra-se em estado de letargia absoluta.

Não há UMA área do poder público sequer, seja em que nível for, que realmente nos cause satisfação.

A federação brasileira é um mito. O que temos, de fato, é uma hierarquia de poder ditatorial, na qual o governo central trata os entes federativos de forma desrespeitosa e estes se veem obrigados a níveis de submissão administrativa e econômica impostos, na verdade, pelo poder legislativo, dominado há décadas por uma quadrilha cujos chefes oligarcas comandam a câmara e o senado a partir de seus próprios interesses escusos e utilizando-se dos mais absurdos estratagemas de cooptação e defecção de opositores.

Mas...

...Apesar disso tudo, o povo brasileiro sobrevive, mesmo que seja encarnando o que diz a genial letra de Zé Ramalho: “Vida de gado. Povo marcado. Povo feliz.”

Uns insensíveis ao desamparo a que estamos todos submetidos. Outros iludidos pelas estratégias de dominação empreendidas pelos mais diversos meios. E há, ainda, aqueles que percebem as diferenças entre o mundo real e o mundo perfeito pintado pelos artistas da política nacional.

A pergunta que se faz, nessa hora, é "o que temos para nos orgulhar?"



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