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terça-feira, agosto 09, 2011

O milho, a pipoca e o "mururu"...


Baseado em texto de Rubem Alves

Milho Alho: não é o que deve ser.
A transformação do milho duro em pipoca macia é símbolo da grande transformação por que devem passar os homens para que eles venham a ser o que devem ser.

O milho de pipoca não é o que deve ser.

Ele deve ser aquilo que acontece depois do estouro.

O milho de pipoca somos nós: duros, quebra-dentes, impróprios para comer.

Pelo poder do fogo podemos, repentinamente, nos transformar em outra coisa.

Mas a transformação só acontece pelo poder do fogo. Milho de pipoca que não passa pelo fogo continua a ser milho de pipoca, para sempre.

Assim acontece com a gente. As grandes transformações acontecem quando passamos pelo fogo.

Quem não passa pelo fogo fica do mesmo jeito, a vida inteira.

São pessoas de uma mesmice e uma dureza assombrosas. Só que elas não percebem. Acham que o seu jeito de ser é o melhor jeito de ser.

Mas, de repente, vem o fogo.

O fogo é quando a vida nos lança numa situação que nunca imaginamos.

Dor.

Pode ser o fogo de fora: perder um amor, perder um filho, ficar doente, perder o emprego, ficar pobre.

Pode ser o fogo de dentro: pânico, medo, ansiedade, depressão, sofrimentos, cujas causas ignoramos.

Há sempre o recurso do remédio. Apagar o fogo.

Sem fogo, o sofrimento diminui. E com isso a possibilidade da grande transformação.

Depois do fogo, o verdadeiro sentido da existência.
Imagino que a pobre pipoca, fechada dentro da panela, lá dentro ficando cada vez mais quente, pensa que a sua hora chegou: vai morrer. Dentro de sua casca dura, fechada em si mesma, ela não pode imaginar destino diferente. Não pode imaginar a transformação que está sendo preparada. A pipoca não imagina aquilo de que ela é capaz.

Aí, sem aviso prévio, pelo poder do fogo, a grande transformação acontece: BUM!

E aí ela aparece como uma outra coisa completamente diferente, que ela mesma nunca havia sonhado.

Bom, mas ainda temos o mururu. O milho de pipoca que se recusa a estourar.

São aquelas pessoas que, por mais que o fogo esquente se recusam a mudar. Elas acham que não pode existir coisa mais maravilhosa do que o jeito delas serem. A sua presunção e o medo são a dura casca que não estoura. O destino delas é triste. Ficarão duras a vida inteira. Não vão se transformar na flor branca e macia.

Mururu: ainda tem gente que gosta!
Não vão dar alegria para ninguém.

Terminado o estouro alegre da pipoca, no fundo da panela ficam os mururus que não servem para nada.

Seu destino é o lixo…







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